Esquerda e extrema-direita se unem e derrubam primeiro-ministro da França

Atualizado em 4 de dezembro de 2024 às 17:09
Michel Barnier foi destituído do cargo de primeiro-ministro da França. Foto: Sarah Meyssonnier/POOL/AFP

Em um movimento histórico, o primeiro-ministro da França, Michel Barnier, foi destituído nesta quarta-feira (4) por uma moção de censura no Parlamento, em aliança entre a esquerda e a extrema-direita. Barnier, que ocupava o cargo há apenas três meses, encerra o governo mais breve da Quinta República francesa, iniciada em 1958.

A moção de censura foi aprovada por 331 dos 574 deputados, superando com folga os 288 votos necessários. A articulação refletiu a insatisfação crescente com a nomeação de Barnier pelo presidente Emmanuel Macron, que optou por um nome de centro-direita em um contexto de divisão parlamentar.

Macron já enfrentava críticas por ignorar o resultado das eleições legislativas de junho, em que a coalizão de esquerda liderada pela Nova Frente Popular (NFP) obteve a maioria relativa, mas não conseguiu formar governo.

A rejeição da proposta orçamentária foi o estopim para a aprovação da moção. Barnier propôs cortes nos gastos públicos e aumento temporário de impostos para grandes empresas, medidas voltadas a conter o déficit público projetado em 6,1% do PIB para 2024 e a dívida nacional de 112% do PIB. Em resposta, a oposição considerou o plano um reflexo da continuidade das políticas de Macron, amplamente impopulares.

Emmanuel Macron e o ex-primeiro-ministro Michel Barnier. Foto: Ludovic Marin/AFP

“Ao incluir seu orçamento na desastrosa continuidade de Emmanuel Macron, o primeiro-ministro só poderia fracassar”, disse Marine Le Pen, líder da extrema-direita. A insatisfação com Barnier, ex-negociador do Brexit, também se refletiu na esquerda, que criticou o aumento da carga tributária sem proteção suficiente para as classes mais vulneráveis.

O prêmio de risco da dívida francesa se aproxima dos níveis da Grécia, e a instabilidade no governo coincide com dificuldades semelhantes na Alemanha, que antecipou suas eleições legislativas para fevereiro.

Com a queda de Barnier, cabe a Macron indicar um novo primeiro-ministro ou negociar com os partidos majoritários no Parlamento. Fontes próximas ao presidente indicam que ele deve arriscar o desgaste e nomear outro líder até o fim de semana. A decisão pode gerar novos protestos e enfraquecer ainda mais sua administração, já desgastada por derrotas eleitorais recentes e protestos de rua.

A instabilidade política na França também reflete na União Europeia. A proximidade do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e a ascensão de forças populistas em todo o continente aumentam a pressão sobre os líderes europeus para garantir governabilidade.

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