Esquivel: “A guerra não se limita à Ucrânia e à Rússia. Biden, UE e OTAN também são responsáveis”

Atualizado em 2 de março de 2022 às 12:22
Esquivel: “A guerra não se limita à Ucrânia e à Rússia. Escombros de edifício ucraniano
Esquivel: “A guerra não se limita à Ucrânia e à Rússia”/ Foto: Reprodução

Por Adolfo Pérez Esquivel

Todos sabem como começam as guerras, ninguém sabe como elas terminam.

Os povos do mundo testemunham com angústia e preocupação a escalada do conflito entre a Ucrânia e a Rússia. O intervencionismo dos EUA – e da OTAN – devem assumir a sua responsabilidade pelo desencadeamento dessa guerra, com consequências imprevisíveis, recusando-se a encontrar caminhos através dos canais diplomáticos.

Quando as palavras se esvaziam de conteúdo e perdem o significado, as armas falam face ao fracasso da via diplomática quando as partes querem impor as suas razões, apesar de saberem que toda guerra deixa destruição e mortes entre o povo, vítimas de interesses geopolíticos, econômicos e sociais.

A guerra psicológica desencadeada pela grande mídia culpando a Rússia por todos os males, procura justificar o injustificável, cultiva a monocultura das mentes e impõe um pensamento único através da desinformação e de mentiras.

É necessário lembrar, as grandes potências como os EUA, a OTAN e a UE se apresentam como os santos de um filme de terror, querem impor a sua política de dominação mundial. O confronto entre a Ucrânia e a Rússia os está conduzindo a uma guerra que pode levar à Terceira Guerra Mundial.

É urgente exigir que a Rússia suspenda a escalada da guerra na Ucrânia e resolva o conflito pelos canais diplomáticos. A paz não é um presente, é construída e é preciso muita coragem e determinação para alcançá-la. E ter claro que nenhum exército é garantia da Paz.

As grandes potências estão em movimento num labirinto sem saída. Perderam a memória do que aconteceu no século passado, a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, as guerras no Vietnã, a invasão do Iraque pelos EUA, baseada na mentira de possuírem “armas de destruição em massa”, como outros conflitos bélicos, em que a OTAN interveio invadindo a Síria e a Líbia, deixando destruição e morte, e se apropriando dos bens e recursos desses povos.

Se mata em nome da Paz e de Deus, das democracias e do direito à soberania e provocam imensos massacres de pessoas. 3 milhões de dólares por minuto são gastos na produção de armas, para a morte e não para a vida. Os EUA e a UE enviam armas e aplicam sanções à Rússia, aprofundando o conflito.

Não procuram parar a guerra, não estão interessados em combater a fome, a miséria, a devastação, o desmatamento, danos à Mãe Terra e ao meio ambiente.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse claramente que os EUA e a UE se recusaram a negociar no conflito. A OTAN não cumpriu os seus compromissos assumidos de não se expandir um único milímetro em direção ao Leste, a sua política expansionista é cercar a Rússia com bases militares enviando, inclusive, armas nucleares.

Há analistas e pesquisadores que tentam contribuir e esclarecer a situação do conflito, interrogam-se se a ação da Rússia é ofensiva ou uma ação defensiva contra a política expansionista dos EUA e da OTAN? Eles tentam cercar a Rússia com bases militares para enfraquecê-la, subjugá-la e instalar uma base militar nuclear na Ucrânia, que afetaria a segurança da Rússia.

A guerra não se limita à Ucrânia e à Rússia; Joe Biden e a UE com a OTAN são responsáveis, e buscam procuram impor uma hegemonia mundial por seus interesses geopolíticos e econômicos, violando a soberania e a autodeterminação dos povos.

Pedimos ao presidente russo Vladimir Putin que cesse as ações militares e encontre maneiras de alcançar a paz.
Pedimos ao presidente estadunidense Joe Biden, à União Europeia e às forças da OTAN a buscarem formas de diálogo para resolver o conflito antes que seja tarde e aumente a violência que põe em risco a paz mundial.

Os povos do mundo exigem o direito à Paz – recordamos o preâmbulo da ONU:

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.

Apelamos a todas as partes em conflito para que ouçam a voz do povo pela PAZ.

É urgente que a ONU convoque a Assembleia Geral por um cessar-fogo e evitar a escalada da guerra. Apelar ao diálogo e criar as condições para negociar uma solução justa para o conflito.

O envio de armas para a Ucrânia e as sanções contra a Rússia pelos EUA e pela UE não ajudam a resolver o conflito, pelo contrário, aumentam a violência.

Adolfo Pérez Esquivel
Prêmio Nobel da Paz

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