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3. “Servi de cobaia para aula de tortura”, diz historiadora à Comissão da Verdade no Rio

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UOL

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A historiadora Dulce Pandolfi, presa e torturada na década de 1970, durante a ditadura militar, afirmou em depoimento à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28), que foi “cobaia” em aulas de tortura para agentes do Estado.

“Dois meses depois da minha prisão e já dividindo a cela com outras presas, servi de cobaia para uma aula de tortura. O professor, diante de seus alunos, fazia demonstrações com o meu corpo. Era uma espécie de aula prática com algumas dicas teóricas”, disse, ao contar que um médico chegou a examiná-la depois que ela começou a passar mal para garantir que ela resistiria até o fim da aula.

Dulce, que fazia parte do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Universidade Federal de Pernambuco quando foi presa, contou que levava choques elétricos pendurada em um pau de arara, enquanto o professor dizia que aquela era a técnica mais eficaz.

Ela ficou um ano e quatro meses presa. Para a historiadora, o principal papel da comissão é garantir que a existência da tortura por parte do Estado não seja esquecida. “É muito duro lembrar toda essa situação, mas é fundamental para que possamos construir um país mais justo e humano”, disse.

A cineasta Lúcia Murat também depôs nesta terça e disse que tentou várias vezes se matar. “A tortura era prática da ditadura, e nós sabíamos disso pelo relato dos companheiros que tinham sido presos antes. Mas nenhuma descrição seria comparável ao que eu vim a enfrentar. Não porque tenha sido mais torturada do que os outros, mas porque o horror é indescritível”, afirmou.

Além de ter sido presa no pau de arara, a cineasta disse que foi submetida a choques elétricos, espancamentos, entre outras técnicas que envolviam inclusive o uso de baratas sobre as feridas. Ela ficou três anos e meio presa.

“Não aceitei dar esse depoimento nem por vingança nem por masoquismo, mas porque acho fundamental contar essa história. Revelar que foram, sim, praticados crimes de lesa-humanidade durante a ditadura”, afirmou Lúcia.

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