5. Idoso desapropriado para a Copa conta sua história
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O aposentado Expedito Rodrigues, de 78 anos, chegou ao bairro da Parangaba, na periferia de Fortaleza, ainda adolescente, com a família que fugia da seca em Igatu, no interior do Ceará.
O ano era 1950, quando o Brasil sediou pela primeira vez uma Copa do Mundo de futebol.
Agora, quando o país se prepara para sediar novamente uma Copa, os preparativos para o torneio obrigaram o ex-pintor de paredes a deixar a casa em que morou por décadas no bairro e onde viu a família chegar à quinta geração no mesmo local, a comunidade Caminho das Flores.
A casa de Expedito foi desapropriada e está prestes a ser demolida para dar lugar a um pilar de sustentação de um trecho elevado do VLT (veículo leve sobre trilhos, espécie de metrô de superfície), uma das obras de mobilidade urbana prometidas para a Copa do Mundo na cidade.
“Eu não queria sair daqui, não. Mas com os homens ninguém pode, eles têm dinheiro”, diz, conformado.
Desde que saiu de sua casa, há poucos dias, mora de favor com um dos filhos, que também vive no bairro e que não teve sua casa desapropriada.
A indenização recebida do governo, segundo ele, não é suficiente para comprar um novo imóvel ou reconstruir a casa em outro lugar.
O governo oferece aos moradores a opção de receber um imóvel num conjunto habitacional no bairro José Walter, a mais de dez quilômetros dali, mas Expedito não quer sair do local onde vive há 63 anos nem ficar longe dos 9 filhos, 28 netos e 2 bisnetos que também vivem no bairro.
Segundo o Comitê Popular da Copa de Fortaleza, ONG que questiona os gastos públicos e os custos sociais dos preparativos para a Copa do Mundo, o VLT provocaria a remoção de 5 mil famílias da cidade de suas casas.
A associação nacional dos Comitês Populares da Copa diz que até 250 mil pessoas estão ameaçadas de remoção em todo o país por conta das obras para o torneio e pedem alternativas, incluindo indenizações justas que permitam aos moradores permanecer nas suas regiões de origem.
No bairro da Parangaba, a maioria dos moradores, como Expedito Rodrigues, já fez acordo com o governo e desocupou os imóveis para as obras, ainda em estágio inicial.
Mas em outros locais, como na comunidade Trilha do Senhor, localizada no bairro da Aldeota, em uma região considerada nobre da cidade, o processo ainda não começou e os moradores prometem resistir.
Para o estudante Thiago de Souza Moura, de 24 anos, morador da Parangaba e integrante do Comitê Popular da Copa, os idosos são os que vêm sofrendo mais com a perspectiva de desapropriação.
“Essas pessoas estão estabelecidas aqui há décadas, não querem recomeçar a vida em outro lugar. Desde que o processo começou, já houve vários casos de idosos daqui da região que adoeceram, tiveram derrames ou mesmo morreram por causa da preocupação.”
Segundo ele, as indenizações não levam em consideração a valorização dos imóveis no bairro por conta das próprias obras que motivaram as desapropriações.
“A região está se valorizando muito, porque vai ter a poucos metros uma estação integrada do VLT e do metrô e um shopping center. Alguém que tem um imóvel avaliado pelo governo em R$ 40 mil não consegue depois comprar um igual nem por R$ 100 mil ou R$ 200 mil”, afirma.
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