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5.Livres, vítimas de sequestro em Cleveland têm à frente desafio de recuperar sua identidade

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BBC

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ThreeWomenCleveland_620x465“Vivas e seguras”, dizia a manchete de um jornal em Cleveland, anunciando o resgate de três jovens na segunda-feira após serem mantidas reféns por cerca de uma década.

Foi um final feliz para uma história que, a cada detalhe revelado, ganha contornos ainda mais desconcertantes.

Amanda Berry, Gina DeJesus e Michelle Knight passaram todos esses anos presas em uma casa no oeste de Cleveland, sendo boa parte do tempo em um porão.

Após Amanda conseguir fugir, elas foram resgatadas da casa de Ariel Castro, de 52 anos. Ele e seus dois irmãos, Pedro e Onil, foram presos. (Depois, os irmãos foram inocentados.)

Mas esse não é o final da história.

“Não está nem perto do fim”, afirma Herb Nieburg, professor de Direito e Justiça do Mitchell College em New London, no estado americano de Connecticut. “Elas ainda enfrentarão longas horas de terapia e tratamento para estresse pós-traumático.”

Apesar de as mulheres estarem fora de perigo físico, vai levar muito tempo para que elas se recuperem totalmente.

Isso porque as táticas usadas pelos sequestradores em casos semelhantes fazem as vítimas se sentirem indefesas, com medo e com a autoestima arrasada.

“Mulheres vitimizadas são isoladas da sociedade por seus captores, e as experiências pelas quais elas passaram impactam em sua autoestima, sua autoconfiança e sua identidade”, diz a psicóloga Rona Fields, que é autora de livro sobre violência contra mulheres.

Segundo ela, esse é um padrão em casos ocorridos em todo o mundo, seja no Afeganistão, na China ou nos Estados Unidos. “O relacionamento com as famílias foi destruído”, diz. “A jovem mantida em cativeiro sente que foi abandonada e rejeitada.”

A polícia confirmou que a menina de 6 anos encontrada na casa é filha de Amanda Berry – e aparentemente nasceu no cativeiro. Há relatos de que as outras mulheres também sofreram abusos.

Essa mistura de violência física e sexual pode levar a vítima a ter uma sensação de perigo, obediência e abalos psicológicos mesmo após o fim dos abusos.

“A violência sexual é humilhante, faz você se sentir mal com você mesmo”, afirma Nieburg. “Instila uma sensação de desespero e desesperança.”

Tal combinação foi vista em casos semelhantes, especialmente com as vítimas Elizabeth Smart e Jaycee Dugard.

Elizabeth tinha 14 anos quando foi sequestrada por Brian David Mitchell, que dizia que ela era sua noiva. Ele abusou sexualmente da jovem durante nove meses.

Jaycee estava indo para a escola quando foi raptada por Phillip Garrido. Na época, ela tinha 11 anos. No total, ela ficou no cativeiro por 18 anos e teve dois filhos durante esse período.

As duas jovens tiveram diversas oportunidades para chamar atenção das pessoas em seu entorno e tentar fugir. Mitchell levava Elizabeth para festas e restaurantes. Jaycee trabalhava na loja de Garrido e eventualmente tinha contato com o público.

Quando finalmente foram confrontadas por autoridades, as duas demoraram para revelar suas verdadeiras identidades. E essa é uma situação comum nesses casos.

“São tantos os abusos que, se em um dado momento ela não é mais abusada como antes, a vítima pode sentir gratidão para com seu sequestrador”, diz Peter Suefeld, professor de psicologia da Universadade Colúmbia Britânica.

Jaycee chegou a explicar por que não tentou escapar: “O que eu conhecia era seguro. O desconhecido era aterrorizante”.
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