5. Morte de Videla na prisão é vitória da Justiça, consideram argentinos
[titulo id=5]
[saibamais leia]
[/saibamais]
O corpo de Jorge Rafael Videla foi encontrado pouco antes das 8h30 da manhã. Já na noite anterior, ele não se sentira bem e se recusara a comer. Como o médico não constatou nada de errado, o detento foi trancado em sua cela.
Como fazia todas as noites durante anos, Videla provavelmente rezou de joelhos, ao lado da cama. Depois adormeceu serenamente, falecendo de velhice, aos 87 anos de idade.
As milhares de pessoas que o ex-ditador carregava na consciência não gozaram de morte tão pacífica. Durante o regime de terror instituído na Argentina entre 1976 a 1981, os “inimigos da nação” foram perseguidos e sequestrados, sofreram em centros de tortura secretos, foram privados de seus filhos, mutilados, fuzilados em pátios internos, atirados de aviões no Rio da Prata.
Quem caísse em desgraça com Jorge Videla e seus generais não tinha a menor chance.
Sindicalistas, democratas, esquerdistas, teólogos: os capangas da ditadura não tinham compaixão de ninguém.
O dirigente deixava que uma comissão decidisse sobre o destino dos presos: libertação, penitenciária ou disposición final – ou seja, execução e eliminação do cadáver.
“Esse era um termo militar para o descarte de coisas inúteis”, esclareceria Videla num livro de entrevistas publicado em 2012.
A escolha terminológica é uma prova de que, até o final, Jorge Videla não mostrava o menor resquício de remorso. O que ele e seus generais fizeram, tinha que ser feito, dizia repetidamente.
Segundo suas palavras, o golpe de Estado de 1976 visara disciplinar uma “sociedade anarquista”, para escapar do “populismo demagógico” e construir uma economia liberal de mercado.
Ele nunca deixou de se declarar como preso político: sua rigidez não lhe permitia nem reconhecer a culpa nem apelar por perdão.
Suas vítimas e descendentes lutam até hoje por justiça e reparação, em penoso trabalho de formiga. “Ele era uma pessoa ruim. Nunca veio e se desculpou por seus atos”, diz Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, organização de direitos humanos que até hoje procura pelos desaparecidos durante a época da ditadura.
[final]