6. 5 mil protestam contra chacina na Maré
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Quando mais de 5 mil pessoas tomaram as ruas da favela Nova Holanda, elas ainda estavam manchadas de sangue, e ainda se podia ouvir, sonoro e sufocante, os gritos de dor de dez famílias.
Na tarde de 2 de julho, a manifestação “Estado que mata, nunca mais!”, no Complexo da Maré, reuniu os mais distintos setores da sociedade carioca.
Deixou claro que a chacina perpetrada pelo Batalhão de Operações Especiais (BOPE) no dia 24 de junho, que resultou em dez mortes, doeu fundo na alma dos cariocas, especialmente nas comunidades que compõe o Complexo.
Os manifestantes fecharam uma das pistas da Avenida Brasil, nas proximidades da passarela 9.
“É uma grande tristeza estar aqui. Eu também sou mãe de vítimas de violência. Chega de polícia entrando em comunidade para matar os nossos filhos. Chega de enterrar nossas famílias. Chega!”, disse Deise Carvalho, da Rede de Movimentos e Comunidades contra a violência, resumindo o sentimento geral.
Atores como Paulo Betti, Enrique Diaz e André Ramiro também estiveram presentes, em solidariedade. “Queria pedir a Deus que abençoe essas famílias”, disse Ramiro.
Além de estudantes, intelectuais, artistas, representantes de associações de classe, e integrantes de movimentos sociais e partidos políticos progressistas, estiveram presentes presidentes das associações de moradores da maioria das 16 comunidades da Maré.
Para Osmar Camelo, presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau, os mareenses devem exigir “um pedido de desculpas oficial”. Charles Guimarães, da Baixa do Sapateiro, lembrou a morte do menino Matheus Rodrigues, em 2008, em outra operação desastrosa da polícia.
A frase “até quando?” foi ouvida inúmeras vezes nos discursos.
Para os moradores e líderes locais, a ação policial na Maré não teve nenhuma relação com a realização da Copa das Confederações, que ainda era disputada naquele momento. “Seria ótimo que esses fatos ocorressem apenas de quatro em quatro anos. Mas infelizmente eles são recorrentes. E a gente não pode mais aceitá-los”, disse Jaílson de Souza, que conduziu o ato.
Sua ONG, o Observatório de Favelas, fica localizada na entrada da Nova Holanda, onde se deu o ato.
A operação do BOPE ocorreu na madrugada de segunda-feira (24).
O sargento Ednélson Jerônimo dos Santos Silva foi assassinado após a repressão policial a um arrastão que ocorrera nas proximidades. Em seguida, o BOPE entrou na Nova Holanda, alegando estar em busca de prender os traficantes que teriam organizado o arrastão.
Moradores afirmam, no entanto, que os policiais entraram para se vingar da morte do sargento.
“Foi uma noite aterrorizante. A polícia deu apenas 15 minutos para as pessoas entrarem em suas casas. Teve tiro durante a noite inteira. Acabou a luz em algumas casas. E, como a internet deixou de funcionar, a gente não podia nem mesmo fazer a denúncia pelo Facebook”, conta J.F.A., moradora da Nova Holanda.
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