6. Greve de forme, prisão sem fim: O que está acontecendo em Guantánamo
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Há 11 anos os primeiros prisioneiros chegavam à baía de Guantánamo, em Cuba. O governo Obama prometeu fechar a prisão mas não cumpriu a promessa; 84 detentos estão em greve de fome
A greve de fome começou depois que guardas revistaram exemplares do Alcorão durante uma inspeção nas celas em fevereiro — mas se tornou algo bem maior do que um protesto contra o desrespeito ao livro sagrado.
Os militares americanos dizem que os detentos haviam escondido “armas improvisadas, comida e remédios não-autorizados” na lombada de exemplares do Alcorão, e que a revista foi feita de acordo com o padrão.
Já os advogados afirmam que os presos propuseram jogar fora os livros, em vez de tê-los revistados dessa maneira. Os militares inicialmente não aceitaram essa opção, mas agora dizem que os detentos podem optar por não ter o Alcorão.
Outras revistas a exemplares do Alcorão já haviam gerado greves de fome em 2005.
Desta vez, todo mundo – desde a Cruz Vermelha até o comandante do Comando-Sul do Pentágono americano – concorda que a greve foi causada pela crescente frustração e desespero dos presos.
Há poucas indicações de que Guantánamo será fechada ou que os detentos serão transferidos para outro lugar num futuro próximo. O último detido a deixar a prisão, no ano passado, só saiu de lá morto.
O general John Kelly, chefe do Comando Sul americano, disse no mês passado que os detentos haviam ouvido o discurso de Obama e perceberam que não haviam nenhuma menção a eles. “Isso causou frustração e eles querem aumentar a temperatura, voltar à mídia” diz Kelly.
Em um relato publicado no New York Times, Samir Moqbel, um detento do Iêmen em greve de fome, afirmou esperar que “por causa do nosso sofrimento, os olhos do mundo irão novamente se voltar para Guantánamo antes que seja tarde.”
Outro detento, o saudita Shaker Aamer, também escreveu um artigo, dizendo que esta greve de fome é diferente das anteriores que já fez. Segundo os advogados, a greve de fome foi adotada por muito mais detentos do que os militares admitem
De acordo com os militares, dois presos tentaram cometer suicídio desde o início da greve de fome.
Na manhã de 13 de abril , soldados com equipamentos antimotim transferiram 60 detentos da cela de convivência conjunta para celas individuais.
Os guardas atiraram balas não-letais; eles afirmam que os prisioneiros tinham armas improvisadas, como garrafas de plástico cheias de pedras e cabos de vassoura.
Comandantes militares afirmaram ao Miami Herald que os detentos estavam ignorando suas ordens, cobrindo as câmeras de monitoramento, cutucando guardas através das grades, jogando urina nos militares e se recusando a se trancar nas celas para inspeções durante a noite.
Em janeiro houve outro conflito no campo de futebol da prisão no qual os guardas também atiraram balas “não-letais” nos presos.
Em um comunicado essa semana, os militares afirmaram que os detentos foram presos para serem monitorados 24 horas por dia. Em anos recentes, a cela comum foi transformada em dormitório. Agora, segundo o jornal Miami Herald, os presos estão de novo mantidos em celas individuais, sem TV e sem seus documentos pessoais.
Os advogados dos detentos afirmam que os guardas se tornaram mais duros nos últimos meses, confiscando cartas e itens pessoais.
Omar Farah, do Centro de Direitos Constitucionais, diz que ele e outros advogados temem que a transferência para celas individuais os impeça de saber o que está acontecendo com a greve de fome. “Temos obtido informações principalmente através do relato de outros presos.”
Pelo menos um detento afirmou que os grevistas estão sendo punidos ao serem forçados a tomar água da torneira, além de manterem temperaturas baixas nas suas celas. Os militares americanos negam.
Até meados de abril, 15 detentos estavam sendo alimentados à força com suplementos nuticionais através de tubos enfiados nariz abaixo.
Os militares alegam que os detentos se apresentam voluntariamente para essas sessões. Porém, para eles, os presos que desmaiam estariam dando seu consentimento.
Outros presos são amarrados durante o procedimento. Moqbel escreveu no New York Times que em março ele chegou a passar 26 horas amarrado.
A Cruz Vermelha e outros grupos de direitos humanos são contra a alimentação forçada; afirmam que os prisioneiros têm o direito de escolher se querem comer. Já os militares americanos mantêm que seria desumano deixar os prisioneiros morrer de fome.
Desde 2002, 779 pessoas passaram pela prisão. Hoje os presos são 166. Nenhum novo detento foi trazido pela administração Obama, e os penúltimos a sair foram dois muçulmanos chineses, transferidos para El Salvador no ano passado. Adnan Latif, um iemenita, suicidou-se em setembro. Foi o nono detento a morrer na prisão.
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