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75 anos depois, sobreviventes da bomba de Hiroshima reencenam história

Cartaz do espetáculo “Os Três Sobreviventes de Hiroshima”: Takashi Morita, Junko Watanabe e Kunihiko Bonkohara /Foto: Divulgação

Do Diário de Cuiabá:

No dia 6 de agosto de 1945, precisamente às 8h15, hora do Japão, quando a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima, a garotinha Junko Watanabe aproveitava a manhã de verão para brincar ao ar livre. Nesse exato momento, o menino Kunihiko Bonkohara acompanhava o pai no trabalho, de pé, em frente a uma mesa de escritório. E o policial Takashi Morita caminhava acompanhado de 12 auxiliares que ajudariam a construir um abrigo antiaéreo.

Mais de 130 mil pessoas foram mortas pela bomba atômica. Watanabe, Bonkohara e Morita são alguns dos sobreviventes e, até hoje, questionam-se por que estão vivos, enquanto tantos outros morreram. Os três “hibakusha” -vítimas da bomba, em japonês- moram atualmente em São Paulo. No pós-guerra, de 1954 a 1972, aproximadamente 50 mil japoneses migraram para o Brasil, de acordo com os registros do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil (MHIJB). Eles se somaram aos cerca de 190 mil que já estavam no país, desde que o navio Kasato Maru, que trouxe os primeiros imigrantes japoneses ao país, ancorou no Porto de Santos, em 1908.

“Quando a guerra acabou, o Japão estava destruído. O país precisou retirar japoneses de territórios sobre os quais havia avançado antes do conflito, como China, Coreia do Sul e Manchúria”, explica Lidia Yamashita, presidente da Comissão de Administração do MHIJB. “Esse retorno no pós-guerra foi um problema grande, porque o país precisava ainda mais de alimentos, moradia e alguma ocupação para todo esse contingente.” Um acordo de paz firmado em 1952 pelos nipônicos com o Brasil, que, durante a Segunda Guerra, combateu as forças do Eixo -formado por Alemanha, Itália e Japão- permitiu a vinda dos imigrantes. Em troca, os japoneses tinham de colonizar áreas ainda pouco exploradas, como o norte de Rondônia.

Há sete anos, Watanabe, Bonkohara e Morita passaram a encenar suas histórias no espetáculo “Sobreviventes pela Paz”, dirigido por Rogério Nagai, 42. A peça teatral integra um projeto que, desde 2016, também leva palestras a estudantes e hoje inclui relatos de sobreviventes do Holocausto. Para os três japoneses, recordar os episódios é evitar que algo como o ocorrido em Hiroshima se repita. “Apesar de abordarmos um fato que aconteceu há 75 anos, conseguimos transportar o público para aquela data e aquele lugar. A plateia consegue se ver, colocar-se no lugar deles. São narrados detalhes muito pessoais do cotidiano, das famílias, impacta as pessoas de diversas formas”, explica Nagai.

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