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8. Construtora e dono de prédio que desabou em São Paulo trocam acusações

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Valor

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Foram quase cinco horas soterrado entre os escombros. Por fim, Silvio Rogério Rodrigues, 28, eletricista, foi resgatado do que sobrou do prédio que desabou na manhã de terça-feira em São Mateus, na zona leste de São Paulo.

“Eu só pedia a Deus para sobreviver”, contou ele, já no hospital, à mulher.

Rodrigues foi uma das 26 pessoas resgatadas com vida de dentro do edifício. Ao menos outras sete morreram.

O rapaz trabalhava na obra havia 15 dias. Estava lá por volta das 8h30, quando o prédio todo veio abaixo. Foi resgatado apenas pouco depois das 13h.

O eletricista mora em São Mateus com a mulher, Alessandra Costa, 23, que viu pela televisão o acidente. Na hora, entendeu que se tratava da obra em que ele trabalhava. Foi então direto para o hospital Santa Marcelina, de Itaquera, para onde eram levados alguns dos feridos, segundo a TV.

Lá, encontrou o marido. Os dois se falaram durante cinco minutos, ainda no corredor, antes de Rodrigues ser levado para ser medicado.

Ele teve cortes na cabeça e fraturas, mas seu estado era considerado bom.

“Levando tudo”

Colega de Rodrigues na obra e na profissão de eletricista, Bento Lopes, 37, trabalhava no acabamento do prédio. Também sobreviveu e, também, por pouco.

“O teto desabou e foi levando tudo. Corri para um quarto, duas paredes caíram, mas o teto ficou. Só bati um pouco o braço, nada grave. Quem me salvou foi Deus.”

Para sair, ele disse ter arrastado o corpo por entre os escombros, encontrando espaço entre caixas de piso que,por sorte, seguraram as lajes que haviam caído. Conseguiu ainda tirar cinco pessoas do meio dos escombros, afirmou.

Inteiro, Lopes só pensava em avisar a mulher e a filha, de 15 anos, que estava tudo bem. Usou o celular de um amigo, pois o seu ficou perdido entre os escombros.

“Achei que ia morrer. Não dá nem pra falar o que foi.”

“Tudo errado”, diz prefeito

O desabamento ocorreu por volta das 8h30 da terça-feira na avenida Mateo Bei. Segundo o Corpo de Bombeiros, cerca de 35 pessoas estavam no prédio de dois pavimentos.

Ao todo, 200 pessoas de equipes dos bombeiros, Polícia Militar e Defesa Civil trabalharam no local. Sete cães farejadores foram usados na procura das vítimas. Segundo o capitão dos bombeiros Marcos Palumbo, a possibilidade de encontrar sobreviventes diminui conforme o tempo passa.

Os feridos foram levados para hospitais da zona leste. O Santa Marcelina, em Itaquera, recebeu sete pessoas, duas continuam em estado grave nesta noite: Ralisson Teixeira da Silva, 22, e Francisco Diego Borges, 25.

A construção já havia sido multada duas vezes neste ano por irregularidades.

Em 13 de março, a Subprefeitura de São Mateus intimou e multou o proprietário do prédio Mustafa Abdallah Mustafa, em R$ 1.159 por falta de documentação.

No dia 25 do mesmo mês, a subprefeitura emitiu outra multa pelo não cumprimento da intimação, no valor de R$ 103.500, e embargou a obra.

No dia 10 de abril, os engenheiros responsáveis apresentaram o pedido de Alvará de Aprovação de Edificação Nova na subprefeitura. Porém, não foi pedido o alvará de execução da obra.

Mesmo assim, a construção continuou. Segundo a prefeitura, a obra não poderia ter começado sem o alvará de execução.

O prefeito Fernando Haddad (PT) disse que “tudo estava errado” na construção.

“A prefeitura avalia aspectos formais da obra, se está de acordo com a legislação da cidade. Nem isso foi observado [pelo proprietário] nesse caso específico”, disse.

Dono acusa engenheiros

De acordo com Edilson Carlos dos Santos, advogado de Mustafa, a construção foi entregue em julho para a loja Torra Torra, que alugou o imóvel para fazer uma nova unidade  – a empresa vende roupas populares.

Em nota, a rede Torra Torra informou que “havia um contrato de locação do prédio, no entanto a rede somente assumiria finalizadas as obras estruturais, pelo proprietário”.

O advogado de Mustafa disse que a Salvatta Engenharia, contratada pela Torra Torra, fez escavações ilegais no terreno, com a finalidade de instalar elevadores e escadas rolantes, mexeu na estrutura do imóvel, diz o advogado Edilson Carlos dos Santos. A constatação, afirma, se deu após uma perícia.

Em nota, Salvatta e Torra Torra dizem que o desabamento foi consequência da irresponsabilidade de Mustafa. E negam que a empresa de engenharia tenha causado problema estrutural à obra.

“Não foi realizada qualquer intervenção por parte da Salvatta na estrutura do imóvel, o que será devidamente comprovado pela perícia.”

Afirmam ainda que as obras no local eram de responsabilidade do dono do local e não estavam prontas – para tanto, argumentam que o alvará de construção e o projeto executivo não haviam sido entregues à prefeitura.

Por fim, dizem que irão tomar “medidas legais”, indício de que poderão ir à Justiça contra o dono do imóvel.

Depois das declarações do Torra Torra e da Salvatta, o advogado do dono do galpão, Edilson Carlos dos Santos não foi encontrado para se pronunciar novamente.

Responsabilidade

Pelo Código de Obras, o engenheiro é responsável pela obra. Questionado sobre o papel da prefeitura, o prefeito Fernando Haddad (PT) disse que cabe ao município avaliar aspectos formais da obra.

Não é atribuição da prefeitura, disse, verificar se a obra é segura – o que cabe ao engenheiro. “Cabe à policia apurar a parte criminal e eventualmente indiciar os responsáveis pela morte.”

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