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8 mentiras de Nise Yamaguchi na CPI da Covid

Nise Yamaguchi. Foto: Senado Federal/Flickr

A médica bolsonarista Nise Yamaguchi depôs à CPI da Covid nesta terça-feira (01). Ela é conhecida por defender a prescrição de cloroquina para tratar pacientes de covid-19, apesar da droga ser comprovadamente ineficaz contra a doença.

Em seu depoimento, a oncologista e imunologista citou dados incorretos sobre o índice de mortalidade no Amapá e disse que nunca teve encontros privados com o presidente Jair Bolsonaro — o que não é verdade.

Uma reportagem publicada pelo Estadão, checou as falas da bolsonarista e identificou 8 mentiras ditas por ela. Veja trechos abaixo:

“Eu já tive covid, e eu não posso me vacinar, porque eu tenho uma doença autoimune” (…) 

É falso que pessoas que têm vasculites não podem se vacinar contra a covid-19. Pacientes com doenças reumáticas autoimunes foram incluídos no grupo prioritário de vacinação, e esse grupo inclui pacientes portadores de vasculites. Em abril, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) destacou a importância da imunização dessas pessoas.

Plano de imunização

“Pacientes reumáticos podem apresentar problemas de imunidade por causa da  enfermidade ou pelo uso de medicamentos imunossupressores ou imunobiológicos”, explicou na época o presidente da SBR, Ricardo Xavier. “Por isso, têm potencialmente maior predisposição para apresentar as formas mais graves do covid-19 e precisam ser protegidos.”

Uma organização do Reino Unido dedicada ao tratamento da Síndrome de Raynaud, doença citada pela médica, também recomenda a vacinação dos pacientes. 

“No Amapá, temos um dos menores índices do mundo de mortalidade”

É falso. A taxa de mortalidade mostra quantas pessoas de uma determinada população morreram por causa de uma doença. A médica citou o Amapá como exemplo de Estado em que se aplicou o chamado “tratamento precoce”.

Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade do Amapá nesta terça-feira, 1º de junho, era de 200,5 mortes por 100 mil habitantes. Essa taxa é maior que a de 11 Estados no País — Maranhão, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Pará, Rio Grande do Norte, Piauí, Tocantins, Acre, Paraíba e Minas Gerais —, ainda que esteja abaixo da média do Brasil, de 220,2. (…) 

“(Perguntada sobre estudos revisados que confirmem eficácia de cloroquina) temos uma série do Henry Ford Foundation, essa publicação traz com relação aos dados da hidroxicloroquina nessas instituições”.

Conforme o Projeto Comprova já mostrou, a análise publicada pelo Henry Ford Health System é insuficiente para provar eficácia da hidroxicloroquina no combate à covid-19. Isso porque ele é um estudo observacional, diferente do chamado padrão ouro de pesquisas, o ensaio clínico randomizado controlado. (…)

“Ao utilizar esses medicamentos (do tratamento precoce), há uma redução significativa no número de mortos e de pacientes graves”

A cloroquina é usada, assim como o seu derivado hidroxicloroquina, para o tratamento de malária e amebíase hepática, doenças causadas por protozoários, e de lúpus e artrite reumatoide, doenças autoimunes, e não possui ação antiviral.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou “fortemente” que a hidroxicloroquina não seja utilizada como prevenção contra a covid-19 e deixe de ser prioridade em pesquisas científicas. A decisão foi tomada após seis estudos com 6 mil pacientes mostrarem que a droga não teve efeito significativo na redução de casos e que ela “provavelmente” aumenta o risco de efeitos adversos. (…)

“Eu nunca tive encontros privados com o presidente Bolsonaro, mas eu tive um almoço com diversos integrantes e eu conversei sobre a importância desse tratamento precoce inicial”

A agenda do presidente Jair Bolsonaro indica que ele se reuniu de forma privada com Nise Yamaguchi ao menos uma vez, no dia 15 de maio de 2020. Há ao menos outras três reuniões entre o presidente e a médica, com a presença de outras pessoas. (…)

“Fizeram um estudo dizendo que os pacientes vinham de casa e que o lockdown só não resolveria o problema. A própria OMS depois disse que era algo de extrema situação. O lockdown serve também para dar estrutura. Isoladamente, não resolve a questão da contaminação, porque as pessoas se contaminam em casa”

A citação é enganosa. Nise Yamaguchi se refere a um levantamento do Departamento Estadual de Saúde de Nova Iorque, divulgado no dia 6 de maio, pelo governador Andrew Cuomo, em uma entrevista coletiva. De 600 novas internações em 24 horas, dois terços eram de pessoas que estavam praticando o distanciamento social em casa. No entanto, esses dados não provam que o lockdown não funciona para frear a contaminação. (…)

“O Exército sempre produziu cloroquina e hidroxicloroquina”

De fato o Laboratório Químico do Exército já produzia cloroquina para o tratamento de malária e lupus. No entanto, o Exército aumentou a produção para o tratamento da covid-19, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo mostrou o Estadão, o Exército produziu 3,2 milhões de doses em 2020. A última produção havia sido em 2017, um total de 256 mil comprimidos. O aumento se deu para uso no tratamento da covid-19.