‘A nota de 200 reais é sinal de que a CPMF está vindo’, diz ex-presidente do BC de Temer

De Felipe Mendes na Veja.
Israelense radicado no Brasil, o economista Ilan Goldfajn foi um dos responsáveis pela transição do modelo econômico que vigora atualmente no país. À frente do Banco Central de agosto de 2016 a fevereiro de 2019, exorcizou a economia do descontrole da inflação e das taxas de juros altíssimas. Atual presidente do conselho do Credit Suisse, um dos maiores bancos privados do mundo, ele ainda é lembrado pela passagem no BC. “Até hoje me param na rua para dizer que eu acabei com a poupança das pessoas”, brinca. Goldfajn liderou o fim da taxa de juros de longo prazo (TJLP) e colocou a agenda digital do banco para girar, deixando uma máquina eficaz e bem azeitada nas mãos de Roberto Campos Neto, que tem seguido sua cartilha. Professor, mestre e doutor em economia, Goldfajn acumula feitos no currículo como o de ter sido eleito o melhor presidente de banco central do mundo pela revista The Banker, em 2018. E, apesar do perfil discreto, não se faz de rogado ao criticar os rumos atuais da economia brasileira, principalmente a direção que toma o projeto de reforma tributária. “A CPMF é a porta de mais impostos, não para desoneração”, diz.
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O Banco Central anunciou recentemente a nota de 200 reais. Essa medida não contraria a agenda digital do BC? A nota de 200 reais é um sinal claro de que a CPMF está vindo. Se isso realmente acontecer, será um retrocesso. A agenda de digitalização do Banco Central vai desaparecer porque você volta a jogar papel-moeda no mercado. O uso massivo desse meio beneficia atividades ilegais. Enquanto o mundo todo está pensando em formas para eliminar as notas mais altas, nós vamos incentivar as pessoas na direção contrária. Na pandemia, o Auxílio Emergencial de 600 reais demandou mais papel-moeda. Mas isso é uma questão conjuntural. Os informais precisam de dinheiro vivo para sobreviver, porque quase todos são desbancarizados. O PIX é uma forma de fazer com que as pessoas usem menos cash. Isso é bom. Quando você tem menos dinheiro em circulação, há menos espaço para corrupção, com malas cheias dessas notas, e atividades ilegais.
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