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A relação entre a corrupção de um país e a honestidade das pessoas

Do Nexo:

 

Quanto mais corrupto um país, maiores são as chances de sua população ser desonesta no dia a dia. Essa é a conclusão de pesquisadores da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, que cruzaram dados de corrupção, evasão fiscal e fraude política com um índice sobre a propensão da população de quebrar regras.

Ao analisar os resultados de 23 países – o Brasil não está entre eles -, perceberam que há relação entre a quebra de regras no dia a dia e o nível de corrupção das instituições. O estudo, chamado ‘Honestidade intrínseca e a prevalência da quebra de regras entre sociedades’, foi publicado na revista “Nature” no fim de março.

Segundo o estudo, valores éticos são transmitidos por colegas e pais, assim como por pessoas de prestígio. Aqueles que têm status, como líderes e celebridades, servem como modelo. Se são corruptos, nepotistas e desonestos e o sistema não é capaz de puni-los, o resto da sociedade capta a mensagem de que quebrar as regras não é um grande problema.

De acordo com Simon Gächter e Jonathan Schulz, autores da pesquisa, sistemas econômicos, instituições e culturas de negócio influenciam os valores éticos das pessoas, e podem igualmente ter um impacto sobre a sua honestidade individual.

Como a honestidade por país foi testada#

Os pesquisadores criaram um índice de prevalência de violações de regras por país e o cruzaram com um outro índice, sobre a honestidade no nível individual. Os indicadores de corrupção vieram de uma ONG chamada Freedom House e do Banco Mundial; para medir a honestidade individual, fizeram uma pesquisa com 2.568 estudantes de diferentes países entre 2011 e 2015.

Os voluntários tinham que jogar um dado duas vezes e informar exclusivamente o primeiro resultado. Eles recebiam US$ 1 se tirassem o número 1, US$ 2 se tirassem o número 2 e assim por diante. Se tirassem o número 6, no entanto, não recebiam nada. Quem aplicava os testes não tinha acesso aos resultados dos dados, e pagava os estudantes com base no que diziam.

Os pesquisadores não tinham acesso aos resultados de cada jogador, mas conseguiam saber a proporção de pessoas mentindo com base na probabilidade estatística de que cada número fosse sorteado em um grupo. A probabilidade de que o número cinco – o melhor resultado possível – de um dado com seis faces seja sorteado por um jogador de primeira, por exemplo, é de ⅙. É extremamente improvável, por exemplo, que todas as pessoas de um grupo grande de um país tire o número cinco.

A pesquisa se baseia na ideia de que a probabilidade matemática foi cumprida. Logo, se todos os jogadores de um país dissessem a verdade, receberiam em média US$ 2,50. Se todos fossem desonestos ao extremo, diriam que tiraram 5 no dado e receberiam US$ 5. Mas entre um e outro extremo, havia graus de desonestidade.

Em vez de informar o resultado da primeira vez que jogou os dados, como determinavam as regras, ou mentir descaradamente e informar o melhor resultado possível, o participante poderia, por exemplo, informar o maior dos dois resultados que tirou – dando um jeitinho nas regras. Nesse caso, a média recebida pelos participantes seria de US$ 3,47.

Instituições evoluem junto com os valores#

O estudo mostrou que participantes de países com baixos índices de violações de regras, como Suécia e Áustria, receberam em média US$ 3,17. Países com altos índices de corrupção, como Geórgia e Guatemala, receberam em média US$ 3,57.

Schulz disse ao Nexo que o raciocínio que explica esse comportamento é no estilo “se todos são desonestos, por que eu deveria ser honesto?”. Ele argumenta que ser honesto é uma desvantagem quando ninguém mais segue as regras.

A conclusão da pesquisa é que os resultados reforçam teorias segundo as quais instituições evoluem junto com os valores. E que instituições fracas, que criam as condições para a quebra de regras, não só trazem problemas econômicos, como também prejudicam a honestidade dos indivíduos.