Acredite se quiser – Joaquim Barbosa já comprou carro usado de Gilmar Mendes

No julgamento que decidiu a suspeição do ex-juiz Sergio Moro nos processos do ex-presidente Lula, o ministro Gilmar Mendes falou à Segunda Turma do STF o seguinte: “Algum dos senhores seria capaz de comprar um carro do Dallagnol?”.
Bom, da Lava Jato Gilmar não comprou nada. Mas de outro ex-juiz que é conhecido por perseguir o PT, ele comprou sim.
Essa é uma reportagem de Carolina Brígido no Jornal Extra, da Globo, de 2009.
Leia:
O convívio entre os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), chegou ao fundo do poço há cinco meses, quando eles discutiram em plenário. Não foi a primeira vez, mas certamente foi a mais ríspida. Joaquim acusou Gilmar de manter “capangas” no Mato Grosso. Ouviu em resposta a acusação de que não era capaz de acompanhar as discussões do tribunal porque faltava muito às sessões. O cenário atual é o de uma relação degringolada: há duas décadas, os dois eram amigos, a ponto de frequentar a mesma turma para beber cerveja e – grau máximo da confiança – de um comprar o carro usado do outro.
O ano era 1988. Gilmar estava de partida para a Alemanha, onde concluiria o mestrado e o doutorado nos dois anos seguintes. O atual presidente do STF tinha um Escort e queria vender a alguém próximo. Joaquim logo se habilitou para o negócio. Ficou com o carro do amigo até o fim daquele ano, quando também partiu para a Europa. Joaquim morou na França até 1992, quando concluiu o doutorado. No mesmo continente, os dois chegaram a se encontrar algumas vezes. Joaquim era amigo também da primeira mulher de Gilmar, Rosa.
Em 1993, quando os dois já estavam no Brasil, Joaquim havia trazido um computador da França e queria vendê-lo. Gilmar prontamente fez mais uma vez negócio com o ex-amigo. A trajetória dos dois ministros foi convergente desde o início da vida acadêmica. E, 1975, ambos foram aprovados no vestibular da Universidade de Brasília (UnB). Cursaram Direito. Joaquim formou-se em 1979 e Gilmar, no ano anterior. Joaquim foi aprovado em concurso para o Ministério Público em 1984 e Gilmar fez o mesmo no ano seguinte.
O ex-procurador Claudio Fonteles, já aposentado, conviveu com Joaquim e com Gilmar na instituição. Ele conta que os dois não eram melhores amigos, mas pertenciam à mesma turma social.
– Eu os conheci na procuradoria. Eles se falavam, eram pessoas que se tratavam normalmente. Nos encontrávamos socialmente. Era bom – lembra.
(…)
No STF, a relação foi retomada – desta vez, com ênfase na inimizade, que se tornou pública. A primeira discussão em plenário entre os dois aconteceu em 2007, quando Joaquim acusou Gilmar de agir com “jeitinho” no julgamento de uma ação. Gilmar disse que o colega não tinha condições de dar lição de moral em ninguém.
Hoje, os dois evitam o mesmo ambiente. Nas sessões do Supremo, falam entre si em plenário apenas quando o diálogo é imprescindível. Em entrevista, os dois se recusam a comentar a atual relação. Também mantém silêncio sobre o passado harmonioso. Mas não negam que ele tenha existido.