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Advogado é espancado por PMs após protesto em Caxias do Sul

Do Sul 21:

 

Regularmente, por volta das 22h, o advogado Mauro Rogério Silva dos Santos busca o filho, estudante de Direito, na faculdade. Na noite desta quarta-feira, porém, o jovem, que trabalha com o pai, ligou para ele por volta das 22h20 pedindo que o pegasse na Praça Central de Caxias do Sul, onde participava de um protesto contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Imagens de vídeo, gravadas momentos depois de o advogado chegar ao local onde ocorria o protesto, mostram ele sendo agredido pela polícia, jogado no chão e um jovem, que seria seu filho, chutando um policial militar que participava da agressão. Em seguida, tiros são disparados e o vídeo é encerrado.

Tanto Mauro quanto seu filho foram presos. O primeiro está sendo investigado por lesão corporal grave, desacato e resistência. O segundo por tentativa de homicídio.

A versão oficial da Brigada Militar é que a polícia foi acionada após receber notícias de que jovens estavam pichando e danificando a fachada de lojas em ruas próximas ao local em que ocorria o protesto. Os policiais teriam reagido após os manifestantes resistirem à prisão.

Um policial teria sido agredido no rosto, tendo três dentes quebrados, outro policial teria ficado com o ombro luxado – esses dois supostamente agredidos por Mauro -, enquanto o oficial que recebe o chute no rosto desmaiou, foi levado para o hospital com suspeita de concussão e liberado hoje pela manhã. Os outros dois já tinham recebido alta na noite de ontem.

Questionado sobre a abordagem policial, o soldado Márcio Correia, responsável pela Comunicação do 12º Batalhão de Polícia Militar, se limitou a dizer que eventuais abusos serão apurados em um procedimento interno da corporação.

O delegado Rodrigo Duarte, da Delegacia de Homicídios de Caxias do Sul, afirma que pai e filho foram presos em flagrante e confirma que estão sendo investigados. Duarte diz que tomou conhecimento, via redes sociais, das imagens de agressão por parte de policiais militares ao advogado, mas diz que a Polícia Civil está buscando imagens completas e aguardando o prontuário médico dos exames de corpo de delito de ambos. Ele diz também que o inquérito deve ser concluído em um prazo padrão de 30 dias, quando então será decidido se eles serão indiciados.

Duarte também confirmou que a Justiça determinou a liberdade provisória do rapaz nesta quinta-feira (1°).

Segundo Mauro, ao chegar ao local onde estaria ocorrendo a pichação, dois jovens estavam sendo detidos. Ele então teria dito aos policiais que era advogado e ouvido como resposta “aqui o senhor não é advogado”. Ainda assim, teria continuado a conversar com um dos agentes na tentativa de descobrir o nome do menor que estava sendo levado preso e a razão da condução. “Eu nem consegui concluir a frase, veio outro policial por trás desse, me empurrando”.

O advogado afirma que tentou argumentar com os policias e se livrar dos empurrões, mas que, na sequência, outro policial passou a empurrá-lo e disse que ele seria preso se não se retirasse do local. “Parecia que eles estavam ensandecidos”, descreve.

Logo em seguida, começariam as agressões mostradas no vídeo. Mauro diz que não resistiu à prisão, mas que apenas se recusou a ser algemado. Após receber vários golpes dos policiais, o vídeo mostra ele reagindo, mas rapidamente sendo controlado e jogado no chão, onde segue apanhando. De repente, uma pessoa aparece na imagem e chuta um dos policiais, que cai no chão.

Após o fim das ações mostradas no vídeo, o filho do advogado teria recebido dois tiros de armamento não-letal. Segundo Mauro, no entanto, o que ocorreu com ele depois foi ainda mais grave do que o mostrado nas imagens. “O que ocorreu depois do vídeo foi muito pior. Houve momentos em que eu fiquei no chão, estava algemado, eles pisavam em cima de mim e um apertava a traqueia”, afirma, dizendo ainda que foi tratado “como um animal” levado à “beira da morte”.