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Aluna de Medicina da USP, filha de pedreiro, vende pão de mel para pagar intercâmbio em Harvard

De Leandro Machado da BBC Brasil.

“Olá, meu nome é Nathalia Oliveira e tenho uma sugestão de reportagem para vocês”, escreveu a estudante de medicina da USP ao perfil da BBC News Brasil no Facebook, no dia 27 de novembro. A dica era a história dela mesma.

“Tive minha vida transformada pela educação: cresci na periferia de São Paulo, filha de pedreiro e neta de um trabalhador da roça do Ceará. Ambos me incentivaram nos estudos e hoje estou prestes a sair uma vez mais das estatísticas: fui aprovada para fazer um intercâmbio de pesquisa científica em Harvard no ano que vem.”

Vinte dias depois da mensagem, a reportagem visita a casa dos pais da estudante em um bairro pacato de Vargem Grande Paulista, cidade na região metropolitana de São Paulo. Sorrindo, Nathalia abre o portão de madeira enquanto o cachorro da família checa quem é o estranho que chegou.

“Você achou a rua fácil?”, pergunta. “Celular aqui não funciona direito.”

Nathalia tem 22 anos, estudou boa parte da vida em escola pública, fez cursinho com bolsa, passou em Medicina em quatro universidades públicas e, agora, em seu terceiro ano na Universidade de São Paulo, foi aprovada para passar um ano em uma das instituições de ensino mais conhecidas do mundo, a universidade americana de Harvard.

O problema é que, para ela, o dinheiro é o pior dos empecilhos, afinal, ela nasceu, cresceu e continua vivendo sem muitos recursos. Como pagar a passagem os Estados Unidos? O curso? Moradia? Comida? Transporte? O retorno?

O jeito foi se esforçar e pedir ajuda, mas, antes desse desfecho, a história de Nathalia foi cheia de obstáculos.

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Por meio de um convênio com a USP, um banco deu uma bolsa de U$ 6 mil (R$ 23 mil) à aluna. Mas ainda faltavam mais de R$ 30 mil para custear as passagens, moradia, alimentação e transporte.

“Começamos a fazer pão de mel para vender”, conta Maria Helena. Para ajudar, amigos da família venderam o doce em estabelecimentos em Vargem Grande. A estudante também vendeu pão de mel na Faculdade de Medicina.

“Arrecadamos uns R$ 2 mil”, diz Nathalia. Ainda faltavam R$ 28 mil.

A estudante então criou uma campanha de financiamento coletivo no site Catarse. Sua meta era conseguir R$ 28.391. Até esta quinta-feira, 190 pessoas já tinham ajudado. Faltavam R$ 80 para a universitária conseguir atingir seu objetivo.

Ela viaja para os Estados Unidos em 21 de janeiro, sua primeira viagem de avião.

Ela diz que, quando voltar e estiver formada, pretende trabalhar no Sistema Único de Saúde (SUS) como uma maneira de retribuir à sociedade os anos em que estudou em uma universidade pública. “Acho que todos os estudantes deveriam passar pelo menos dois anos no sistema público”, afirma.

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Nathalia Oliveira. Foto: Reprodução/BBC