Amiga conta que juíza assassinada abriu mão da escolta por pena do ex-marido

De Vera Araújo, Paolla Serra, Rafael Nascimento de Souza, Felipe Grinberg e Arthur Leal no Globo.
Com a pandemia, o convívio com as melhores amigas diminuiu, e o silêncio sobre o problema, tão delicado, aumentou. Viviane Vieira do Amaral Arronenzi era reservada, e nas raras vezes que tocou no assunto o fez por uma imposição de fatos que não podiam ser escondidos, como uma briga na rua e uma tentativa de invasão do apartamento da mãe, para o qual havia se mudado com as três filhas. A juíza, de 45 anos, passou os últimos meses sofrendo. Seu ex-marido, o engenheiro Paulo José Arronenzi, de 52, reagia violentamente a cada esforço fracassado de retomar o casamento que ela decidiu terminar em julho.
Três meses depois de denunciá-lo à polícia e passar a contar com uma escolta cedida pelo Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, Viviane foi assassinada a facadas por Paulo José. O feminicídio ocorreu no fim da tarde de quinta-feira na Barra, no momento em que entregava as meninas ao pai, com quem esperavam passar a noite de Natal. Estava sozinha com as filhas, de idade entre 7 e 9 anos: tinha decidido, um mês atrás, abrir mão do esquema de proteção. Sentia-se incomodada com a presença permanente de seguranças e queria preservar, apesar de tudo, a imagem do homem com quem viveu por mais de uma década e formou uma família.
— Era uma pessoa supertranquila, que nunca impediu as filhas de verem o pai — afirmou nesta sexta-feira um dos seguranças que faziam a escolta de Viviane. — Levávamos ela e as crianças no carro para vários lugares. As meninas ficavam um tempo com ele e depois voltavam com a doutora — completou.
Uma colega do Tribunal de Justiça do Rio também comentou o esforço de Viviane para poupar as crianças do relacionamento conturbado com Paulo José.
— Ficou evidente que ela tentava preservar a figura do ex-marido como pai. Tentou se proteger e, ao mesmo tempo, protegê-lo. Acabou abrindo mão da escolta por pena dele — disse uma magistrada, que pediu anonimato.
A juíza Simone Nacif, que era amiga da vítima, lembra que Viviane era uma mulher forte e que sempre quis preservar as filhas.
— Viviane era uma mulher forte, independente financeiramente e reservada. Estava refém de um relacionamento que demonstrava ser fatal — disse. — Ela procurou os órgãos oficiais, fez um registro de ocorrência e chegou a pedir uma escolta, mas pode ser que tenha achado que o perigo havia passado. Queria preservar as filhas.
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