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“André Esteves tinha acesso à cela de Cerveró”, diz Toffoli

Do Globo:

 

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, lamenta que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) tenha tentado envolver os ministros da Corte em supostos favorecimentos ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. “Temos um Poder Judiciário respeitável. Não é um tapinha nas costas que vai alterar qualquer coisa”, afirmou. No último dia 10, Toffoli recebeu Delcídio em seu gabinete no Tribunal Superior Eleitoral, mas garante que nada foi dito sobre a Lava-Jato.

Como foi o dia anterior à prisão do senador Delcídio Amaral?

O ministro Teori Zavascki me ligou na terça-feira, na hora no almoço, um pouco antes da sessão, que começa às 14h, e disse que queria conversar comigo sobre um assunto sério. Ele disse que tinha uma decisão a ser tomada e gostaria de saber a opinião dos colegas da turma e, eventualmente, até levar isso para o colegiado, para decidir na forma de uma questão de ordem. Eu disse que chegaria ao Supremo um pouco antes da sessão e iria direto ao gabinete dele. Ele disse desde logo, diante da gravidade, que era o caso de prisão, que era o caso de flagrância.

O senhor concordou de pronto com a prisão?

Mostrando as provas, não havia como ter divergência.

O senhor ouviu as gravações?

Eu li, já tinham algumas transcritas, e ele relatou a questão. Por volta de cinco horas, depois da sessão, fomos todos ao gabinete dele, e ele, então, explicou tudo para os quatro colegas: o Celso de Mello, o Gilmar Mendes, a Cármen Lúcia e eu.

Qual foi a reação dos ministros?

De choque, de tristeza. É uma situação inimaginável, de uma desfaçatez inimaginável. Não quero aqui fazer nenhum prejulgamento, mas é grave você se intrometer a atrapalhar uma investigação, e foi o que ocorreu.

O que foi discutido na reunião no gabinete do ministro Teori?

Discutimos o caso e chegamos à conclusão de que era caso de flagrância. Depois, chegamos à conclusão de que era realmente o caso de prisão. Discutimos se íamos fazer uma sessão no mesmo dia. Mas a sessão seria aberta e, se fosse no mesmo dia, o caso se tornaria público e poderia prejudicar as diligências, inclusive a prisão. Então o ministro Teori sugeriu fazer uma decisão ad referendum (decisão sujeita à aprovação posterior). E eu disse que, no dia seguinte cedo, faríamos uma sessão extraordinária (para referendar a decisão), quando as diligências já estivessem cumpridas.

Qual ponto impressionou mais os ministros do STF?

Impactou o fato de que o (banqueiro) André Esteves tinha um rascunho com as anotações pessoais de Cerveró sobre o que ele falaria na delação premiada. Ou seja, ele teve acesso à cela onde está o Cerveró. Isso é uma intimidação para a Justiça. Como ressaltou o procurador-geral da República, esse tipo de vazamento tem que ser apurado.

Como o senhor avalia o fato de Delcídio ter planejado a fuga de Cerveró?

Hoje está demonstrado que ninguém consegue fugir. O mundo hoje é muito pequeno. O PC Farias (ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor) tentou fugir e foi capturado. O mesmo aconteceu com o (ex-banqueiro Salvatore) Cacciola e o (médico Roger) Abdelmassih. E agora, o (ex-diretor do Banco do Brasil Henrique) Pizzolato foi capturado, mesmo estando em um país no qual ele tinha a nacionalidade. As pessoas que imaginam que é possível fugir para se furtar ao cumprimento de uma prisão estão equivocadas.