André Singer: aproximação com o dono da CSN expressa as ambiguidades de Ciro

Da coluna de André Singer na Folha, intitulada “Para Onde Vai Ciro?”:

A filiação do empresário Benjamin Steinbruch ao Progressistas (antigo PP), noticiada nesta semana, de modo a poder se tornar vice na chapa de Ciro Gomes (Partido Democrático Trabalhista, PDT) à Presidência da República, expressa as ambiguidades que cercam a candidatura do ex-governador cearense.

Embora se trate, ainda, de balão de ensaio, a articulação existe. O irmão do candidato, Cid Gomes, um dos coordenadores da pré-campanha, considerou “excelente” o nome do industrial. O presidente da agremiação brizolista, Carlos Lupi, declarou que é “o que se quer de um vice”.

O dono da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) filiou-se, sem alarde, ao partido de Paulo Maluf às vésperas de se encerrar o prazo legal que permitiria candidatar-se.

De acordo com as notícias, dois Ciros teriam participado das conversas prévias à filiação: o Gomes e o Nogueira, presidente da sigla malufiana e senador pelo Piauí. No rastro da possível aliança existe a perspectiva de atrair, também, o DEM, com o qual os “progressistas” encontram-se, por ora, comprometidos.

Para quem está surpreso, convém lembrar que Ciro começou a carreira no PDS (ex-Arena), militou por muito tempo no PSDB, por meio do qual chegou a ministro da Fazenda, e passou, mais recentemente, pelo Pros (Partido Republicano da Ordem Social).

Embora crítico contumaz da aliança estabelecida pelo PT com o PMDB, sobretudo no segundo mandato de Lula, o político cearense nunca deixou de cultivar os velhos contatos conservadores. Manteve a simpatia do conterrâneo Tasso Jereissati, mesmo depois de deixar o PSDB, e cuidou de antigas pontes estabelecidas com o PFL (hoje, DEM), que o apoiou a presidente em 2002.

Depois da reeleição de Dilma, Ciro engajou-se na criação de uma frente parlamentar envolvendo forças conservadoras para substituir o papel chave do peemedebismo no governo.

A empreitada resultou em rotundo fracasso. Eduardo Cunha galgou a Presidência da Câmara e trouxe a guilhotina do impeachment para o centro da cena. Mas o líder pedetista parece continuar a crer que é possível contornar o PMDB, buscando alianças à direita dos seguidores de Temer (lembrar que foi uma senadora “progressista” que elogiou “levantar o relho” contra a caravana de Lula no Sul).

O pragmatismo de Ciro é compreensível. Trata-se de um político profissional disposto a fazer o necessário para ganhar. Atrair um grande capitão de indústria, como fez Lula com José Alencar, soma. Do ponto de vista da esquerda, entretanto, tais manobras complicam a formação de um programa comum.

Olha ele aí

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Kiko Nogueira

Recent Posts

PT lança pré-candidatura de Rogério Correia para prefeitura de BH

Foi homologada nesta segunda-feira (6), por unanimidade, na Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, a…

2 horas ago

“Se você está procurando segurança, não seja um artista”, diz Christiane Torloni após sair da Globo

Prestes a celebrar cinco décadas de sucesso em 2025, Christiane Torloni tem sua história profundamente…

2 horas ago

Lula vai falar sobre enchentes no RS em entrevista coletiva

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciará sobre as enchentes no Rio…

3 horas ago

Jorge Seif alega que foi show de Madonna porque esposa pediu

No sábado (4), durante o show de Madonna no Rio de Janeiro, o senador Jorge…

4 horas ago

Atacante Jô, ex-Corinthians, é preso antes de jogo em Campinas; saiba mais

Jô, centroavante ex-Corinthians e atualmente atuando pelo foi detido na noite desta segunda- (06) em…

4 horas ago

VÍDEO: Brigada Militar desmente fake news de Pablo Marçal sobre tragédia no RS

Nesta segunda-feira (6), a Brigada Militar do Rio Grande do Sul desmentiu uma fake news…

4 horas ago