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5. Antipartidarismo é perigoso para a democracia, alertam especialistas

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DW

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Diversas nos seus objetivos e críticas, as manifestações que há mais de duas semanas ocupam as ruas do Brasil voltaram-se também contra uma antiga fonte de reclamações dos brasileiros: os partidos políticos.

Militantes de alguns partidos chegaram a ser expulsos dos protestos e agredidos por outros manifestantes.

A insatisfação dos brasileiros com os partidos políticos acabou encontrando eco até nas palavras do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. Na avaliação dele, os partidos estão “desgastados” e “sem credibilidade”, enquanto o povo está pronto para ser ouvido nas questões nacionais.

Barbosa disse que o Brasil vive uma grave crise de representatividade política e, embora não defenda a eliminação dos partidos, apoiou uma menor dependência das legendas para discutir os temas nacionais.

“Temos que ter é consciência muito clara de que há necessidade de incluir o povo nas discussões sobre reformas.”

Para especialistas ouvidos pelo site DW Brasil, a insatisfação dos brasileiros tem origem no afastamento dos partidos da população, que não consegue mais se identificar com eles.

Eles lembram, porém, que os partidos são muito importantes para a democracia e alertam para os riscos do antipartidarismo.

“Essa expectativa de que seria melhor uma sociedade sem partidos é um pouco etérea. As pessoas não sabem o que colocar no lugar dos partidos, o que pode ser muito perigoso, porque uma sociedade sem partidos pode ser simplesmente a sociedade da liderança carismática e, de certa maneira, até mesmo ditatorial”, afirma o cientista político Rodrigo Stumpf González, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O sociólogo Marcelo Siqueira Ridenti, da Unicamp, afirma que os partidos são fundamentais para a democracia, mas reforça que eles não são a única forma de participação.

Na sua opinião, os protestos mostram a necessidade de se abrir outros canais de participação.

“O que não elimina a necessidade de existência dos partidos e também do rejuvenescimento dessa forma de organização da sociedade”, afirma.

Segundo Stumpf, a chamada democracia delegativa – em que o cidadão participa apenas da eleição e, ao eleger os seus representantes, delega a eles toda a responsabilidade para solucionar os problemas do país – ainda predomina no Brasil.

“É verdade que há alguns movimentos sociais que têm se mobilizado e interferem no processo político. Mas ainda temos uma grande maioria da população que, em certo sentido, é um pouco passiva e espera que alguém faça as coisas por ela”, diz.

Segundo os especialistas, o exercício da democracia não deve acontecer somente na hora da eleição.

Para o cientista político José Álvaro Moisés, da USP, a baixa participação popular se deve a dois fatores: a cultura política – que determina que o governante, ao ser escolhido, tem soberania para governar sem interferências externas –, e a carência de uma educação política.

A cultura política brasileira é uma herança do processo de formação do Estado brasileiro e também do período colonial português, afirma.

Com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, várias estruturas foram simplesmente implantadas na sociedade local, sem que houvesse um processo progressivo de construção do sistema democrático dentro da sociedade, diz o professor da USP.

Além disso, afirma, no currículo escolar faltam disciplinas voltadas para os adolescentes, que expliquem o processo e as instituições democráticas brasileiras.

Muitos jovens não sabem qual o papel das instituições democráticas, quais as funções dos governantes e também não conhecem seus direitos.

“Educação é um fator absolutamente fundamental para a participação cívica na democracia”, afirma ele. Se as pessoas não sabem como funciona o sistema democrático, elas não se mobilizam.”
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