Após se assumir gay, presidente do Bahia diz que está “aprendendo a viver sem medo”

Dois anos e meio se passaram desde o primeiro contato da jornalista Joanna de Assis até Emerson Ferretti, presidente do Bahia e ex-goleiro, decidir assumir publicamente sua homossexualidade no podcast “Nos Armários dos Vestiários”, do Globo Esporte. “No primeiro momento fui reativo a participar”, confessou Ferretti. “Mas aquilo foi mexendo comigo”. O relato, publicado em agosto de 2022, ocorreu meses após o ex-jogador Richarlyson revelar sua bissexualidade no mesmo programa.
“45 anos no futebol se protegendo, 45 anos com medo, sob tensão”, desabafou o dirigente de 53 anos. Ferretti relembrou décadas vivendo um personagem, evitando ser visto com o mesmo amigo repetidamente, criando desculpas para jornalistas e até anunciando um noivado fictício. “Naquela época ser gay era considerado doença pela Organização Mundial de Saúde. Os gays eram tratados como cidadãos de segunda categoria”, explicou.
Apesar de ter iniciado sua vida sexual com mulheres, Ferretti conta que desde os 8 anos, quando ingressou no Grêmio, já tinha noção de sua orientação. Na Seleção Brasileira sub-15, nos anos 90, a certeza já estava clara. “Entendi minha sexualidade sem poder conversar com ninguém, com medo de que se fosse descoberto minha carreira acabaria”, revelou. O isolamento foi a parte mais dolorosa do processo.
Três anos após se assumir, Ferretti não tem dúvidas: “A vida melhorou”. Como primeiro dirigente assumidamente gay do futebol brasileiro, ele tornou-se símbolo de representatividade em um ambiente historicamente conservador.