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Argumento de que o Oriente Médio tem ‘conflitos milenares’ foi usado como justificativa para ataques, diz jornalista

Exércitos americano e do Iraque. Foto: Wikimedia Commons

Do jornalista Diogo Bercito no blog Orientalíssimo na Folha de S.Paulo.

Desde a morte do general iraniano Qassim Suleimani na madrugada de sexta-feira (3), voltou a circular pela imprensa e pelas redes sociais a ideia de que o Oriente Médio é um lugar pavorosamente complicado. Outra ideia que tem bastante força é a de que os conflitos naquela região são milenares — e, portanto, são impossíveis de solucionar. Este Orientalíssimo blog, no entanto, discorda dessas duas avaliações, que mais servem para impedir o engajamento crítico com a situação.

Essa suposta complexidade excepcional do Oriente Médio é um dos estereótipos que ajudam a tornar a região ainda mais distante, exótica e inexplicável. Sobra a um punhado de analistas e políticos a tarefa de explicar, afinal, o que está acontecendo por ali. A política iraniana não é mais difícil de entender do que a brasileira ou a americana, no entanto, para quem se esforça em estudá-la e em falar a sua língua.

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Em seu livro “Orientalismo”, o pensador palestino Edward Said criticou justamente essa ideia de que o Oriente Médio é uma região imutável. A tese de que os árabes e o islã estão fadados a nunca mudar serviu, no passado, para justificar missões civilizatórias e a colonização da região.

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