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Arminio Fraga diz que Lula “deu certo” com a “excelente gestão de Palocci e Meirelles”

Lula e Arminio Fraga. Foto: Wikimedia Commons

Da coluna do economista tucano Arminio Fraga na Folha de S.Paulo.

A campanha para presidente começou precocemente, com consequências previsíveis. Analistas respeitados estimam em 90% a chance de um segundo turno entre Bolsonaro e Lula no ano que vem.

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Como todo brasileiro de minha idade (63), acompanhei bem a trajetória de Lula. Estive com ele pessoalmente entre as eleições de 2002 e a posse. Foram encontros privados, que à época muito me ajudaram como parte do esforço de desarmar a crise de confiança que, na essência, foi uma crise de desconfiança em Lula e no PT.

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As conversas foram fascinantes. Confirmaram o que eu já tinha ouvido de FHC: Lula não era um revolucionário, era um líder sindical carismático, pragmático e inteligente. A transição foi extremamente civilizada e bem-sucedida. A grande surpresa para alguns de nós, para mim certamente, foi a imediata criação da ficção da herança maldita.

Na prática, no entanto, o governo seguiu na área econômica basicamente o roteiro que deixamos. Naquele momento, eu acreditava que o Brasil ia dar certo. E deu, por alguns anos, com a excelente gestão de Palocci, Meirelles e suas equipes e alguma ajuda do boom de commodities.

No entanto, em 2006 Palocci caiu e em seu lugar Lula pôs o grupo liderado por Dilma Rousseff e Mantega, que aos poucos promoveu a mudança em direção a um modelo econômico que já tinha dado errado no passado. E deu outra vez. A história é bem conhecida, não vou me alongar.

Como Lula manteve um mínimo de disciplina macroeconômica e as commodities continuaram subindo, as coisas andaram bem. O Brasil cresceu no mesmo ritmo de seus pares na região (nada para bater bumbo, portanto), o que permitiu avanços sociais dentro do que se esperaria de um governo de esquerda.

A taxa de crescimento da renda por estrato foi mais alta para aqueles mais pobres, exceção feita aos muito ricos. Foi mais à base do consumo do que do investimento, mas não foi pouco.

Em paralelo ao que as pessoas sentiam no seu dia a dia, firmou-se na política uma associação de Lula com o Brasil Velho, o que acabou desembocando no escândalo do mensalão e quase derrubou o governo.

Mas a qualidade de vida das pessoas melhorou durante o período. Não surpreende, portanto, que a lembrança que as pessoas têm de Lula seja boa. Pouco importa que as sementes para o fracasso retumbante de Dilma, escolha pessoal de Lula, tenham sido plantadas por ele mesmo.

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