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As razões da desigualdade no Brasil

“A mobilidade de renda entre gerações no Brasil é bastante baixa. Durante os períodos de maior crescimento econômico os filhos de famílias mais pobres conseguem até alcançar ocupações melhores do que seus pais (mobilidade ocupacional), mas dificilmente conseguem ascender à elite. E os filhos nascidos em famílias ricas dificilmente acabam pobres, mesmo que não se esforcem muito durante a vida. Porque recebem a herança dos pais. Esse é o ponto principal de Piketty: a desigualdade por herança e não por mérito”, escreveu Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP, em artigo publicado pelo jornal Valor neste final de semana.

Segundo ele, “enquanto o Brasil arrecada somente 2% do PIB com impostos diretos sobre as pessoas físicas, os EUA arrecadam 8%. Nossa alíquota mais alta de imposto de renda para pessoas físicas é de 27,5%, comparada com 40% nos EUA e 50% na França. Nós compensamos essa diferença com impostos indiretos” — que atingem da mesma forma todas as pessoas.

Trechos do artigo:

“Em 1970 o Brasil estava sob uma ditadura militar, somente 63% das crianças entre 7 e 14 anos frequentavam a escola, não havia programas de transferência de renda, 68% dos brasileiros eram pobres e a parcela da renda apropriada pelos 10% no topo da distribuição era de 48%. Já em 2010, o Brasil era uma democracia estável, 98% das crianças frequentavam a escola, o programa Bolsa-Família alcançava 11 milhões de famílias, a porcentagem de pobres havia se reduzido para 10%, mas a parcela da renda apropriada pelos 10% com maiores rendimentos continuava em torno de 50%. Por que será que, apesar de tantos avanços sociais que a sociedade brasileira alcançou nos últimos 40 anos, a concentração da renda nas mãos de uma pequena parcela de famílias não diminuiu?”

“Por que a concentração da renda é tão grande no Brasil? Parte da explicação está na grande desigualdade educacional que existe por aqui. No Brasil, as pessoas mais ricas casam-se entre si e colocam seus filhos em escolas privadas de maior qualidade e com isso conseguem ter acesso às melhores universidades, geralmente públicas e gratuitas, que também servem como sinalizador importante para o mercado de trabalho.”

“A concentração de renda sempre foi elevada no Brasil, mas recentemente os americanos estão nos alcançando, o que tem despertado reações intensas por lá. O principal caminho para reduzir a desigualdade no Brasil seria melhorar a qualidade da educação nas escolas públicas e aumentar o ingresso nas principais carreiras do ensino superior. Além disso, seria necessário reformular o nosso sistema tributário, eliminando grande parte das renuncias fiscais que beneficiam as empresas e os mais ricos e substituindo parte da carga tributária obtida com impostos indiretos por impostos diretos aplicados às pessoas e às empresas.”

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