Apoie o DCM

Ativistas de direitos humanos deixam Acari depois do assassinato de Marielle

O bairro, sob ocupação da PM

De O Globo

RIO – Quatro dias antes de ser assassinada, junto com seu motorista, a vereadora Marielle Franco (PSOL) postou em sua página oficial no Facebook uma denúncia sobre abusos em Acari. “O 41º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados em um valão”, publicou, dando voz às queixas de um coletivo da região, o Fala Akari. Após a publicação da parlamentar, a Polícia Militar abriu um inquérito para investigar a operação do último dia 5, que moradores dizem ter terminado com a morte de Eduardo Ferreira e Reginaldo Santos, que foram encontrados às margens do rio que dá nome à localidade.

A apuração sobre as circunstâncias das mortes dos jovens ainda está em curso. Por nota, a PM assegurou que, durante a operação, não houve vítimas ou feridos. Somente horas depois, teria recebido a informação de que havia um baleado no Hospital de Acari, que acabou não resistindo, e um cadáver achado numa rua do bairro.

A denúncia de Marielle sobre o caso, que viralizou após sua morte, voltou a jogar luz sobre Acari, uma das regiões mais violentas da cidade. Nos últimos dias, parte do comércio da área sequer abriu as portas. Muitos têm medo e evitam falar sobre as operações da polícia. Alguns moradores reclamam da truculência e de casas revistadas sem autorização. Na madrugada de quinta-feira, no dia seguinte à morte de Marielle, ativistas de direitos humanos preferiram deixar Acari. Um deles, que pediu para não ser identificado, explicou que o afastamento já era debatido entre líderes comunitários, por precaução:

— Saí de madrugada. A gente não tem medo, mas é preciso ter cautela para continuar a luta, nesse momento. Já estávamos pensando em passar um tempo fora — afirmou.

ALÉM DA VIOLÊNCIA, PROBLEMAS SOCIAIS

Os relatos de truculência durante as operações da semana passada chegaram ao Observatório da Intervenção Federal, coordenado por pesquisadoras do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes. O grupo enviou uma nota para a imprensa questionando a ação: “O Observatório da Intervenção pergunta: isto é estratégia de segurança da intervenção? Ou é negócio particular do 41º BPM com Acari?”, indagava o texto.

Em Acari, a violência é uma das facetas mais cruéis de uma região que também tem inúmeros desafios sociais. Com 27.347 habitantes (dados de 2010), a área tem um dos piores resultados no Índice de Desenvolvimento Social da cidade. Em 2010, estava na 152ª posição. O pior, Grumari, estava em 160º. Em 2015, a taxa de mortalidade infantil foi altíssima: 33,69 entre mil nascidos vivos, o que deixou o local em 6º lugar na cidade inteira. O Hospital Ronaldo Gazolla, ou Hospital de Acari, é conhecido pela precariedade: no final do ano passado, em meio à queixa de funcionários, que estavam sem receber, chegou a suspender cirurgias e a fechar alas por falta de insumos.

(…)