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Ausência de jovens em protestos anti governo chama a atenção de pesquisadores e analistas

Do Valor:

 

Embora tenham sido sempre convocadas e, em parte, organizadas por uma juventude que milita em torno de entidades como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem pra Rua – os rostos imberbes mais visíveis dos protestos -, as grandes e as enormes manifestações de 2015 e deste ano contra o PT e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff não parecem ter sido muito bem-sucedidas na mobilização dos mais jovens, característica que tem chamado a atenção de pesquisadores, analistas e mesmo de alguns participantes desses protestos.

Os dados são do instituto Datafolha, que já tem uma pequena série histórica de levantamentos feitos nas grandes manifestações que ocorreram em São Paulo desde março do ano passado. Além da contagem numérica dos presentes, os pesquisadores do instituto entrevistam uma amostra dos manifestantes para traçar os perfis sociais e econômicos das pessoas que têm aparecido nesses eventos.

No primeiro e enorme ato de 2015 contra a presidente Dilma, com 210 mil manifestantes na avenida Paulista, segundo a contagem do instituto, só 6% dos presentes tinham entre 12 e 20 anos de idade, mostrou o levantamento feito durante quatro horas de manifestação. A média de idade naquela ocasião era de 40 anos.

Desde então, os grupos de oposição à petista fizeram mobilizações menores, uma delas com 40 mil pessoas, em dezembro, e o gigantesco ato do dia 13 de março, com 500 mil presentes. Apesar da significativa diferença de tamanho entre um evento e outro, a proporção de jovens não teve alteração relevante. No último, só 4% dos que apareceram na avenida Paulista tinham entre 12 e 20 anos. E a média de idade aumentou na comparação com a de março de 2014. Foi para 46 anos.

O contraste com o perfil etário da população é notável. Na cidade de São Paulo, segundo dados do Censo de 2010, a turma da faixa que vai dos 12 aos 20 anos de idade representa 16,4% do total da população acima de 12 anos.

Nos protestos contra o impeachment de Dilma, esses puxados por entidades como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a situação não é muito diferente. O perfil etário dos protestos vermelhos sempre foi muito parecido com o dos atos da oposição. Numa manifestação contra o impedimento da presidente realizada em agosto do ano passado em São Paulo, com 37 mil pessoas, e em outra feita em dezembro, com 55 mil participantes, os mais jovens nunca passaram de 5%, conforme o Datafolha.

Só no último evento anti-impeachment, no dia 18 de março, com 95 mil participantes e a presença chamativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pivô da ebulição da crise, a turma da faixa entre 12 e 20 anos de idade foi maior, 9%. Mesmo assim, continuou sendo a faixa etária menos representativa do protesto. A média de idade dos que compareceram para defender a presidente continuou alta, 39 anos.

A presença da UNE (União Nacional dos Estudantes) e outras entidades de movimento estudantil entre as organizações envolvidas nessas mobilizações contrárias ao impeachment, portanto, parece ter feito pouca diferença nesse aspecto.

Os fracos sinais de engajamento da juventude na fervilhante agenda política do país parecem contrastar fortemente com o que ocorreu quase 25 anos atrás nas manifestações que pediam o impedimento do então presidente Fernando Collor de Mello.