Balbúrdia: “Vacinação no Brasil começou aos trancos e barrancos”, diz Natalia Pasternak

Da coluna de Natalia Pasternak no Globo:
A vacinação no Brasil começou, mas aos trancos e barrancos. Regras diferentes adotadas por estados e municípios confundem o cidadão, que fica sem saber onde cadastrar-se, para qual posto de saúde se dirigir, quando, e qual o seu lugar na fila das prioridades. Até a definição de “trabalhador de saúde” varia conforme a cidade. Reportagens denunciam inconsistências nas orientações dadas por agentes de saúde sobre vacinação de gestantes e lactantes, uso de termo de consentimento, cadastro e, no geral, apontam um excesso de burocracia que emperra o processo.
As campanhas de vacinação no Brasil costumam seguir diretrizes nacionais claras, coordenadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Trata-se de um programa que, até agora, gozava de grande prestígio internacional, reconhecido mundialmente por conduzir campanhas de imunização bem-sucedidas num país continental, populoso e diverso. A pandemia traz dificuldades inéditas para o PNI. Nunca foi necessário elaborar um plano tão detalhado e em meio a tamanhas incertezas quanto à disponibilidade dos imunizantes e, até, às características das vacinas que chegarão mais para a frente. Ainda assim, o PNI redigiu um protocolo que contempla muito bem as prioridades, classificando-as segundo critérios internacionais, que levam em consideração o risco de exposição, agravamento e morte.
No entanto, o Ministério da Saúde (MS), onde o PNI atua, tem sido omisso desde o início da pandemia, abandonando estados e municípios à própria sorte, sem estruturação nacional, sem campanhas de informação — pelo contrário, disseminando informações falsas. Isso levou o Supremo Tribunal Federal a decidir que estados e municípios têm competência concorrente com a União no enfrentamento da pandemia, inclusive em relação a planos de vacinação. (…) O PNI sempre foi um orgulho nacional. O atual desgoverno parece ter conseguido a proeza de desmoralizá-lo, e seus dirigentes vêm sendo incapazes de reagir. Essa inabilidade fica evidente quando constatamos que caminhoneiros seguem como grupo prioritário, simplesmente porque o PNI não teve firmeza para reagir à pressão de uma classe que, tecnicamente, não tem por quê passar na frente da fila.. Enquanto os técnicos se calam, quem paga o preço é a população.