Bancada ‘BBB’ pressiona Temer por estatuto da Família e direito a posse de armas
Do El Pais:
As frentes parlamentares da Segurança Pública, Evangélica e do Agronegócio da Câmara dos Deputados (apelidadas de BBB – Bala, Boi e Bíblia) esperam contar com um grande interlocutor no Planalto caso Dilma Rousseff seja afastada do Governo. Desde o início do mês as principais lideranças destas bancadas têm frequentado o palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer, para discutir com o peemedebista suas principais pautas e reivindicações caso ele assuma a presidência. As três frentes apoiaram massivamente o impedimento da petista, e suas lideranças são unânimes em criticar o que consideram de “falta de diálogo” da presidenta com os parlamentares.
No cardápio para um eventual Congresso pós-Dilma estão pautas polêmicas que não contam com respaldo do PT e de setores progressistas da sociedade, como a aprovação do Estatuto da Família, o fim do Estatuto do Desarmamento e a alteração nas regras para demarcação de terras indígenas.
O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), uma das lideranças da bancada evangélica, afirmou que a conversa com Temer, realizada na semana que antecedeu a votação do impeachment na Câmara, foi produtiva. Foi feita, inclusive, uma roda de oração junto com o vice. “Nossa frente parlamentar foi totalmente ignorada pelo Governo Dilma, e não apenas ignorada, mas confrontada pelas ideologias de esquerda”, diz. De acordo com ele, o vice-presidente se comprometeu a ter uma “interlocução direta” com os evangélicos na Câmara — que têm na figura do presidenta da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um de seus representantes. “Ao menos seremos ouvidos pelo Governo, e, naquilo que for possível, teremos atendidas nossas reivindicações de políticas publicas voltadas para nossos eleitores”, afirmou Cavalcante. Segundo ele, dos 91 deputados federais evangélicos que integram a frente, apenas cinco votaram contrariamente ao impeachment de Dilma.
Entre as pautas que a bancada pretende colocar em votação este ano está o Estatuto da Família, que já foi aprovado em comissão especial mas ainda precisa ser votado no plenário da Casa. O projeto causou polêmica ao definir o núcleo familiar como sendo composto por um homem e uma mulher, descartando os diversos outros modelos de família existentes na sociedade. Além disso, os parlamentares evangélicos pretendem aprovar o Estatuto do Nascituro, que dificulta ainda mais o acesso ao aborto legal, e uma Proposta de Emenda à Constituição que permite que associações religiosas proponham ações diretas de inconstitucionalidade para barrar leis que contrariem seus interesses.
Jerônimo Goergen (PP-RS), uma das lideranças da Frente Parlamentar da Agropecuária (o Boi da bancada BBB), afirma que no passado “Temer já demonstrou para nós em alguns pontos, como na aprovação do novo Código Florestal e do marco regulatório do biodiesel, que respeita nossas posições”. De acordo com o deputado, sempre que procurado pela bancada o vice “retribuiu com apoio e solidariedade”. Segundo ele, a relação com Dilma foi “inexistente”: “O setor sobreviveu porque foi competente, uma vez que o dinheiro do Plano Safra foi usado, em 2015, nas pedaladas fiscais”.