Biógrafo diz que Paulo Freire criticou socialistas e era contra doutrinação

Em entrevista ao UOL, o professor Sérgio Haddad, que lançará uma biografia de Paulo Freire, afirma que o educador era um crítico de regimes socialistas e jamais defendeu a doutrinação de alunos.
Segundo Haddad, que é doutor em Educação, pesquisador e assessor da organização não-governamental Ação Educativa, Freire é pouco estudado no Brasil, e a rejeição ao patrono surpreende pela “ignorância”.
Leia alguns trechos da entrevista:
Qual sua opinião sobre a passagem do plano de Bolsonaro em que se fala que “a ideologia de Paulo Freire” deve ser expurgada? E de que maneira ela está presente na educação brasileira?
Sérgio Haddad – Expurgar a “ideologia de Paulo Freire” me parece uma atitude autoritária, além de pouco operacional. Como fazer isto? Você pode discordar das ideias, que está na base da democracia, mas não expurgá-las. As suas ideias estão presentes não só no Brasil, mas em muitos países do mundo. Alguns dos seus livros já foram traduzidos para mais de 20 línguas. Sua obra “Pedagogia do Oprimido” foi a terceira mais citada em trabalhos na área das humanas no mundo, mais do que [Michel] Foucault e [Karl] Marx. São milhões de livros publicados.
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No Brasil, entre especialistas em educação, Paulo Freire é mais criticado ou mais apoiado? Por quê?
Eu acredito que é mais apoiado, pelo que vejo e sinto. A verdade é que falta entre os especialistas estudar mais Paulo Freire, as universidades e os programas de formação de especialistas deveriam se responsabilizar por esta falta. Para apoiar ou criticar, é necessário conhecer.
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Era esperado ou é uma surpresa que Paulo Freire seja agora tão rejeitado por parte da sociedade brasileira? O que teria levado a esta situação?
Difícil responder. É surpresa se consideramos os argumentos utilizados para a sua rejeição: que ele é comunista, que suas ideias estragaram a qualidade da escola pública, que prega a instrumentalização da educação para fins políticos. São acusações de quem nunca leu suas obras! Surpreende a ignorância de quem utiliza este tipo de argumento. Por outro lado era esperada uma oposição: Paulo Freire, se estivesse vivo, estaria em um campo oposto às ideias e práticas do bloco atual de poder.
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