Legado do bolsonarismo é uma extrema-direita viva e mobilizada, revela pesquisa

Atos feitos pelo bolsonarismo não precisam mais da presença de Jair Bolsonaro para acontecer. Os dezoito meses de mobilização nas ruas deixaram como herança uma extrema-direita viva e mobilizada. É o que revela pesquisa da antropóloga Isabela Kalil, “Democracia Sitiada e Extremismo no Brasil: 18 meses de manifestações bolsonaristas”. O estudo foi feito no Núcleo de Etnografia Urbana e Audiovisual da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (NEU-FESPSP).
Foram mapeadas 45 manifestações entre março de 2020 e setembro de 2021. Neste período, os bolsonaristas atuaram, segundo os pesquisadores, com “extremismo estratégico”. Para Kalil, os atos não precisam mais da presença do presidente. “Há vários exemplos na pesquisa. Bolsonaro pode moderar o tom e mudar a performance sem que os atos sejam desmobilizados”.
Ela cita as manifestações dos “300 do Brasil”: “Nas manifestações, sua base cobra mais radicalismo e diz: ‘eu autorizo o que for necessário’. Mas institucionalmente não aconteceu nada”. Bolsonaro esteve em 25 dos 45 protestos estudados.
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Protestos do bolsonarismo são indissociáveis da pandemia, diz pesquisa
O extremismo dos atos bolsonaristas estudados é indissociável da pandemia. A crise sanitária, diz a pesquisa, se transformou em oportunidade para mobilizar os apoiadores do presidente. A maioria dos atos do ano passado era em defesa do tratamento precoce e o ataque a gestores estaduais e municipais.
Houve uma mudança de retórica bolsonarista. Antes do coronavírus, os alvos eram prioritariamente políticos e partidos. Depois, entraram na mira instituições, como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Os pesquisadores também identificaram o aumento da presença de símbolos militares e novos tipos de protestos, como as motociatas.