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“Bolsonaro aceitou que nos deportassem para o México”, diz brasileiro preso nos EUA

28.jun.2019 – Jair Bolsonaro e o presidente dos EUA, Donald Trump, posam para foto durante o Encontro do G20
Imagem: Reprodução/Twitter/@jairbolsonaro

Do Estadão:

Na semana passada, 53 brasileiros estavam na Casa do Migrante — centro católico que tem acolhido em Ciudad Juárez, a 4 quilômetros da fronteira com os EUA, quem tentou entrar em território americano. Eles são os primeiros alvos de uma medida adotada em janeiro pela Casa Branca: enviar brasileiros ilegais ao México. Até agora, este procedimento era reservado principalmente a centro-americanos, especialmente hondurenhos, salvadorenhos e guatemaltecos.

Angustiados e confusos, os brasileiros relataram ter sido maltratados na prisão americana, passaram frio, fome e se apertaram em celas superlotadas. O número de brasileiros detidos na fronteira sul dos EUA disparou de 1.504, no ano fiscal de 2018 (de 1.º de outubro de 2017 a 30 de setembro de 2018), para 17.893, no ano fiscal de 2019, quase 12 vezes mais – um recorde.

Os dados mais atuais, referentes aos primeiros meses do ano fiscal de 2020 (outubro, novembro e dezembro de 2019), mostram as prisões ainda em alta: foram 4.469 detenções no trimestre, três vezes mais que em todo o registro de 2018.

A maioria entra por El Paso, no Texas, cidade gêmea de Juárez, do lado mexicano. Segundo dados oficiais, existem hoje 28.316 brasileiros com ordem de deportação nos EUA, dos quais 983 já foram condenados. Há ainda 313 sob custódia do Serviço de Imigração e Alfândegas (ICE, na sigla em inglês) com ordem final de deportação autorizada.

Frio, fome e celas superlotadas são relatos comuns de imigrantes ilegais detidos nos EUA – não apenas brasileiros. No entanto, o governo americano defende a qualidade das prisões. O vice-presidente, Mike Pence, considerou exagerados na imprensa os relatos que comparavam os centros de acolhimento a “campos de concentração”.

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Este ano, Juárez teve um inverno glacial. Na semana passada, a neve cobriu as ruas da cidade e a temperatura chegou a -10ºC. Mesmo assim, os brasileiros reclamaram que os americanos mantiveram o ar-condicionado das celas ligado.

Valmir viajou com o filho de 8 anos e diz que ficou quatro noites sem dormir. “Eu me senti um lixo, humilhado. Chorava o tempo todo e me perguntava por que estava naquele lugar, por que meu filho tinha de passar por isso. Ele não tem culpa.”

Apesar da angústia e do medo, a maioria não quer desistir do “sonho americano”. “Eu gostaria de pedir ao presidente (Bolsonaro) que não deixasse que nos tratassem assim. Não somos terroristas, somos trabalhadores. Ele (Bolsonaro) aceitou que nos deportassem para o México”, reclama Valmir.

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