Bolsonaro adota tática de troll inspirado nos EUA, diz filósofo
Da BBC

Inspirados pela extrema direita americana, o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno adotam estratégia de comunicação dos trolls, os provocadores da internet, afirma Rodrigo Nunes, professor de Filosofia Moderna e Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Em entrevista à BBC News Brasil, ele diz que foi justamente assim que o político chegou aonde chegou.
“Você perguntava para as pessoas qual era o atrativo dele e a conversa era sempre ‘Ah, ele fala o que todo mundo pensa’. Aí você apontava para alguma coisa que ele tinha dito, dizia que era grave, e recebia como resposta: ‘Ah não, mas ele está só brincando'”, afirma. “Ou seja, é a figura que ao mesmo tempo fala o que todo mundo está pensando e está só brincando, a figura do troll, justamente, que está sempre nesse jogo dúbio, entre o que é brincadeira e o que é sério.” (…)
BBC News Brasil – Em que se baseia a estratégia de comunicação do governo Jair Bolsonaro?
Rodrigo Nunes – Essa estratégia já não é de hoje, acompanhou toda a campanha do Bolsonaro à Presidência e caracterizava a atuação dele como parlamentar, que no final das contas era justamente uma atuação muito mais midiática do que propriamente parlamentar — a gente sabe que, como legislador dentro do Congresso, a participação dele sempre foi pífia.
Ela se assemelha bastante às estratégias comunicativas da extrema direita americana, da chamada alt-right, uma constelação de grupos que ficaram mais visíveis durante a campanha de Donald Trump à Presidência. E tem essa característica muito marcante de explorar a tática que, na linguagem da internet, se chama edgelord [“o senhor do limite”, em tradução livre], a figura que está sempre forçando o limite daquilo que pode ser dito numa situação qualquer. (…)