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Bolsonaro ameaça cortes nas verbas para a mídia e jornalistas admitem praticar auto censura

De Anthony Boadle e Gram Slattery na Agência Reuters.

Para o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, de direita, atacar os meios de comunicação críticos quase diariamente nas redes sociais não é suficiente. Uma vez no poder, ele promete atingir a receita desses veículos.

Com meio bilhão de dólares em orçamentos de marketing do setor público a seu critério, o capitão da reserva do Exército está ameaçando reduzir os anúncios destinados a grupos de mídia críticos, atacando os alicerces financeiros da imprensa livre do Brasil.

Depois de uma campanha na qual Bolsonaro rejeitou as reportagens investigativas como “fake news” inventadas por um establishment corrupto e seus partidários perseguiram jornalistas individualmente, as ameaças estão causando preocupações nas redações do país.

Questionado em uma entrevista na TV na semana passada se ele respeitaria a liberdade de imprensa até mesmo do jornal Folha de S.Paulo, o diário de maior circulação do Brasil, a resposta de Bolsonaro foi curta.

“Por si só esse jornal se acabou”, disse Bolsonaro em uma entrevista no Jornal Nacional, da TV Globo. “No que depender de mim, imprensa que se comportar de maneira indigna não terá recursos do governo federal.”

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Vários jornalistas experientes que trabalham para as maiores organizações de notícias do Brasil disseram à Reuters nas últimas semanas que começaram a reprimir suas críticas, temendo a reação de um governo de Bolsonaro – e a violência de seus partidários.

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Na redação da Folha, a sensação de cerco é palpável.

O editor executivo Sérgio Dávila disse em uma entrevista que o jornal tomou medidas de segurança para proteger seus repórteres após um bombardeio na mídia social feita por apoiadores de Bolsonaro por reportar o uso da plataforma de mensagens WhatsApp por sua campanha.

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Ele citou o caso envolvendo a jornalista Patricia Campos Melo, autora da reportagem sobre o uso do WhatsApp pela campanha de Bolsonaro, que foi muito atacada e teve a sua conta do aplicativo de mensagem invadida.

“Para ela é muito assustador, porque ela é uma mulher que tem filho pequeno e as pessoas falam as coisas mais terríveis que se pode imaginar.”

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Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação/Twitter