Bolsonaro disse que Sirkis foi seu “inimigo na luta armada”, mas tinha 16 anos quando ele deixou o país

Da coluna de Rubens Valente no UOL:
A primeira coisa a ser dita sobre as fabulações do presidente Jair Bolsonaro a respeito do seu passado no Exército é que não tem problema nenhum ele nunca ter enfrentado a esquerda armada durante a ditadura militar (1964-1985). Pelo contrário, para um servidor público que naquela época respeitasse a lei e a ordem e fosse contrário às prisões arbitrárias, torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados ocorridos no período, ficar dissociado da repressão seria um alívio, quem sabe uma honra. Mas para Bolsonaro parece que se trata de um demérito.(…)
A fraude sobre Bolsonaro ter sido “inimigo do Sirkis na luta armada” foi exposta na própria segunda-feira por vários internautas e jornalistas. Há um problema cronológico capital na construção de Bolsonaro: nascido em 21 de março de 1955, ele entrou no Exército em 8 de março de 1973, aos 18 anos incompletos de idade. Cinco anos mais velho do que ele, Sirkis participou em 1970, como membro do grupo de esquerda armada VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), do sequestro de dois embaixadores estrangeiros, da Alemanha e da Suíça. No ano seguinte, seguiu para um exílio que durou oito anos e meio.
Ou seja, quando Sirkis saiu do Brasil, Bolsonaro tinha apenas 16 anos de idade e nem estava no Exército. Em 1973, enquanto Bolsonaro aprendia a amarrar seu coturno, Sirkis era correspondente do jornal francês Libération no Chile, tendo coberto o golpe militar contra Salvador Allende (1908-1973), em setembro. Após o golpe, Sirkis refugiou-se em Buenos Aires. Ele só retornou ao Brasil em 1979, após a Lei da Anistia, quando a guerrilha de esquerda já inexistia no país. Ou seja, Bolsonaro e Sirkis jamais se cruzaram em todo esse processo e muito menos “lutaram” um contra o outro. (…)