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Bolsonaro é o regente de uma orquestra de difamação

Bolsonaro e militares Foto: EVARISTO SA / AFP

A série de difamações de Jair Bolsonaro é levantada por Daniel Bramatti e Alessandra Monnerat no Estadão Verifica. “Aconteceu com a jornalista Miriam Leitão, com o governador Flávio Dino e até com o prefeito de Nova York, Bill de Blasio. Após ataques públicos de Jair Bolsonaro a pessoas e instituições, elas imediatamente se tornam personagens de boatos infundados de grande circulação nas redes sociais. As ondas de desinformação buscam validar as declarações do presidente e, ao mesmo tempo, manchar a reputação de seus alvos. O quadro publicado abaixo mostra sete episódios em que esse padrão foi observado. Em todos, o Estadão Verifica – núcleo de checagem de fatos do Estadão – constatou a falsidade total ou parcial das alegações, que circularam principalmente em perfis e páginas de simpatizantes do governo no Facebook e no Twitter”.

Eles desenvolvem: “Exemplos mais recentes de pessoas atacadas que acabaram envolvidas em boataria são o jornalista Glenn Greenwald e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que é filho de um ativista político preso e assassinado durante a ditadura militar. Sem apresentar evidências, Bolsonaro afirmou no dia 29 de julho que o pai de Santa Cruz, Fernando, teria participado da luta armada e sido morto por seus próprios companheiros. O próprio governo já reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro pela morte. Nas horas seguintes, começaram a circular nas redes sociais peças que falsamente associavam Fernando a um atentado em Recife e que o identificavam em uma foto, armado, ao lado do então líder estudantil Jose Dirceu – a pessoa retratada era, na verdade, um policial. No dia 19 de julho, Bolsonaro reproduziu durante café da manhã com correspondentes estrangeiros a alegação falsa de que Miriam Leitão estaria indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa durante a ditadura. No Twitter, a reação foi rápida: no mesmo dia, foi lançada a hashtag #MiriamLeitaoTerroristaSim, segundo levantamento da pesquisadora Luiza Bandeira, do Atlantic Council, que monitora redes de desinformação nas redes sociais”.

“O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi atacado por Bolsonaro na mesma ocasião de Miriam — ele acusou a entidade de divulgar dados falsos sobre a Amazônia. O sistema de satélite que indica alertas de desmatamento em tempo real havia registrado aumento de 254% de área desmatada em julho de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior. O Monitor de WhatsApp da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que captura o conteúdo que mais circula em grupos públicos do aplicativo de mensagens, indicou que nos dias seguintes às críticas de Bolsonaro começou a viralizar o vídeo de um médico que alega, sem base factual, que os dados do Inpe eram mentirosos. A desinformação também foi reproduzida no Facebook. O Estadão Verifica publicou uma checagem sobre o assunto no dia 30 de julho, em parceria com o projeto Comprova. Outros casos semelhantes também ocorreram mais cedo no ano. Em maio, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, foi falsamente acusado de corrupção, tráfico de drogas e estupro. Não há documentos que comprovem as alegações. Os boatos começaram a correr após o integrante do Partido Democrata criticar o anúncio da ida de Bolsonaro à cidade americana – a viagem acabou cancelada”, completa o Estado de S.Paulo.