Bolsonaro é responsável pela desvalorização do real, diz Miriam Leitão

Da Coluna de Miriam Leitão no Globo.
As crises se misturaram formando um cenário mais difícil. A economia mundial mergulhou num grau enorme de incerteza com o avanço do coronavírus, no Brasil um conflito institucional provocado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro torna nebuloso o cenário de tramitação de reformas, alguns estados começaram a tomar decisões que agravam o rombo fiscal, as projeções de crescimento do PIB estão sendo revistas para baixo. Nesta semana, mais do que em qualquer outra, o mercado mundial reagiu com pânico ao coronavírus. Isso ficou refletido no número de Wall Street, com uma queda de 12% em uma semana.
Uma onda no mercado financeiro pode refluir com a mesma facilidade com que se forma, por isso o mais relevante é o que acontece na economia real. Mas os fatos concretos provocados pela epidemia de doença respiratória já têm reflexo na economia global. Este primeiro trimestre terá um crescimento muito menor do que o que havia sido projetado globalmente. Muito deixou de ser produzido e consumido porque os trabalhadores, e consumidores, ficaram fechados em casa.
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Este é o pior momento para o governo entrar nesse parafuso de conflitos criados e de paralisias decisórias. A reforma tributária continua à deriva no Congresso, sem que o Ministério da Economia consiga dizer qual é o seu projeto, a reforma administrativa segue na mesa presidencial há mais de dois meses, e as emendas constitucionais já enviadas permanecem paradas. Ou seja, não há nada de relevante acontecendo que alimente a expectativa de melhora no cenário brasileiro. O conflito institucional mina o resto de confiança.
Tudo isso está acontecendo diante de um pano de fundo cada vez mais complexo na economia internacional. O dólar já subiu 10% no ano, e a bolsa caiu 10%. Mas movimentos no mercado se formam e se desfazem. O problema é que a economia está indo para mais um ano de frustração de nível de crescimento, o mundo está mergulhado na incerteza, e o presidente inventa crises e ameaça as instituições. O risco maior é quando as crises se misturam.