Bolsonaro foge da economia, diz Miriam Leitão

Miriam Leitão, em sua coluna dominical em O Globo, escreveu sobre a preocupação de setores da campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva em retomar o foco na economia como tema central da campanha, à despeito do que vem ocorrendo nas últimas semanas, nas quais dominou a pauta de costumes. Com dados, a jornalista corroborou com tal visão. Confira trechos:
O ideal neste tempo final de campanha é que o país consiga se dedicar a temas que realmente importam, como a economia, o emprego, a luta contra a fome, o resgate da educação. Ontem (22), a coligação de Lula ganhou o direito de resposta concedido pelo plenário do TSE e tem pela frente essa vantagem nestes momentos decisivos. Estamos a uma semana do fim da mais violenta campanha eleitoral da história da democracia. O PT, na visão de muita gente do partido, foi para o campo que Bolsonaro quis, o de discutir falsos problemas e entrar na guerra de ataques sem fim e sem propósito. (…)
Entre os economistas da campanha do PT a grande preocupação hoje é com o grau e as consequências da gastança. Ninguém sabe o tamanho da ruína econômica que está sendo criada com as medidas eleitoreiras em série que comprometem as contas públicas no ano que vem.(…)
De fato, o nível de reservas cambiais que já foi de US$ 388 bilhões em junho de 2019 estava em setembro de 2022 em R$ 324 bi, US$ 64 bilhões a menos, o nível mais baixo desde 2011. Só este ano o nível caiu em US$ 37 bi. O que governo tem feito, com a ajuda da equipe econômica, é um terra arrasada fiscal. Nenhum economista, mesmo longe de qualquer disputa, sabe ao certo quanto vai custar tudo. É por isso que ontem, em entrevista ao GLOBO, Aloizio Mercadante falou em R$ 430 bilhões e R$ 160 bi. Ninguém sabe ao certo. Não há teto fiscal há muito tempo, não há limites éticos e fiscais para o que a equipe econômica de Bolsonaro faz nesta reta final da campanha.
Quem vencer herdará um orçamento inexequível, um país em escombros fiscais. O governo sabe disso e prepara seus planos. Entre eles, o que foi publicado esta semana que é o de indexar salário mínimo, aposentadorias e benefícios pela meta de inflação. Há dois anos o país não consegue chegar nem no teto da meta. Se tivesse sido aplicado nos últimos quatro anos significaria sim uma redução real do salário mínimo e do valor dos benefícios. O governo poderia ter a coragem de defender o que pretende e justificar. Mas se a justificativa para a redução do valor do mínimo e benefícios for equilíbrio das contas públicas, terá que explicar as farras fiscais eleitoreiras.
Por isso, Bolsonaro foge da economia. Repete as mentiras que treinou. Que o país está “bombando”, que a gasolina está barata. Ele, sua equipe, os bolsonaristas do mercado financeiro, todos sabem que esse preço é artificial. A gasolina está baixa pela mistura explosiva de represamento de preços, intervenção na Petrobras, imposição de perdas fiscais aos estados, renúncia a R$ 52 bilhões de impostos federais. O custo é insustentável. E tudo isso, como admitiu uma fonte do governo com quem tive uma conversa sincera sobre esse assunto, vai no caminho oposto da transição energética.(…)