Bolsonaro não é “um sujeito com visão”, diz economista de Harvard

Da revista Exame
Carmen Reinhart, a economista nascida em Cuba que deu o alerta em maio sobre os apuros que agora se concretizam nos mercados emergentes, avisou que a situação pode piorar em 2019.
Segundo ela, a alta de juros nos EUA, a desaceleração da economia chinesa e possíveis calotes intensificam o estresse nos países em desenvolvimento.
Ela é professora da Universidade Harvard.
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Qual é sua perspectiva para os mercados emergentes em 2019?
Não é das melhores. Enfatizo ao máximo que, durante a crise financeira global de 2007-2009, foi a China que fez com que os emergentes se recuperassem fortemente. De 2003 quase até 2013, o país cresceu consistentemente mais de 10% ao ano. Isso é improvável em 2019.
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Haverá retomada nos países de pior desempenho neste ano?
O caminho da Argentina é muito estreito e frágil. Os juros estão altos para estabilizar o peso. Mas a estabilização não está se traduzindo imediatamente em redução das pressões inflacionárias.
O Brasil tem um sério problema de dívida. A pior parte é não haver muito gasto discricionário. As despesas são principalmente na forma de transferências e serviço da dívida. O governo não tem muito espaço para apresentar melhora no curto prazo. Mais cedo ou mais tarde, acho que a inflação volta no Brasil.
Os novos líderes latino-americanos darão impulso aos mercados?
No Brasil, Jair Bolsonaro era considerado o mal menor. Não era uma ótima escolha. Não é um sujeito com uma visão. Houve um suspiro de alívio. Vamos ver quanto tempo dura. É uma situação muito disfuncional. A tomada de decisão está fragmentada.
Vamos dizer que ele queira agarrar o touro pelos chifres e decidir que é preciso lidar com o problema da previdência. A confiança vai melhorar muito se ele conseguir. No entanto, os efeitos fiscais são demorados.
A América Latina tem uma história longa e sombria de governos militares. Não dá para ignorar os riscos à democracia. Em épocas favoráveis, costuma haver maior liberalização dos mercados e menos controles de capital — e o inverso em períodos difíceis.
Se as condições continuarem difíceis, como eu espero, aumenta a probabilidade de recuo. Reversões de políticas governamentais geralmente vêm em períodos ruins.
No México, os mercados se convenceram de que AMLO (o presidente eleito Andrés Manuel López Obrador) poderia ser um novo Lula porque os comentários dele durante a campanha foram moderados. Mais recentemente, logo antes da posse, a reação é de surpresa porque parece que ele realmente acredita no que vem dizendo há 30 anos.
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