Bolsonaro usou filho para brecar carreira política de ex-mulher, diz jornal
Do Estadão:
Corria o ano 2000. Revoltado com a ex-mulher, a vereadora Rogéria Nantes Braga Bolsonaro, por entender que traiu sua confiança, o deputado federal Jair Messias Bolsonaro escalou um filho menor do casal, Carlos, de 17 anos, para disputar com a mãe, de 40, a eleição que poderia levá-la ao terceiro mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Disputa única do gênero na política brasileira, que se saiba, mãe e filho concorreram na eleição de 1.º de outubro. Carlos Bolsonaro foi eleito com 16.053 votos, o mais jovem vereador do Rio. Rogéria, com 5.109, amargou a suplência e o fim de uma carreira política começada em 1992. “Filho de troglodita, troglodita é”, disse Jair Bolsonaro ao Estado dias depois da eleição, comemorando a vitória do filho, que atribuiu à “transferência de votos”. “Não foi uma eleição de filho contra mãe, mas sim de filho com o pai”, disse ao Estado. “Para mim, ela já está morta há muito tempo”, complementou, referindo-se à ex-mulher, de quem já estava separado há três anos.
Em entrevista à revista Istoé Gente, em fevereiro de 2000, ele explicou assim:
“Meu primeiro relacionamento despencou depois que elegi a senhora Rogéria Bolsonaro vereadora, em 1992. Acertamos um compromisso. Nas questões polêmicas, ela deveria ligar para o meu celular para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias. Acho que sempre fui muito paciente e ela não soube respeitar o poder e liberdade que lhe dei”.
(…)
“A Rogéria foi uma vereadora com grande preocupação social, transparente e sempre presente”, disse ao Estado o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), seu colega de Câmara no primeiro mandato, o único a falar com aspas entre meia dúzia de vereadores da época.
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“O filho foi claramente usado pelo pai, para se vingar da vereadora, que foi deserdada”, disse o deputado Chico Alencar. “É uma prática política arcaica, com viés autoritário e patriarcal”, complementou.
‘Não vai falar.’
O deputado Jair Bolsonaro não quis falar ao Estado. O advogado Gustavo Bebiano, presidente do PSL, foi informado da pauta, e reiterou a negativa: “Sobre este assunto ele não vai falar”, disse. Bebiano não conhecia a história da eleição de 2000. Ao ouvi-la, não fez comentários específicos. Mas disse: “O Jair é honesto, e sempre assume as atitudes dele. O que eu mais aprecio no Jair é ter a coragem de não ser politicamente correto – o que faz de nós todos mentirosos”.