Bolsonaro volta a namorar o Patriota, partido que humilhou quando se candidatou a presidente

Da coluna de Thiago Prado no Globo:
Jair Bolsonaro deixou claro na segunda-feira que dificilmente o Aliança pelo Brasil será formado até março e lembrou ter recebido convites para ingressar em PP, PTB ou “outros partidos pequenos”. Embora cite opções de siglas no plural, o partido menor que realmente o presidente estuda entrar é o Patriota — sigla de apenas seis deputados federais, mas que cresceu de 13 para 49 prefeituras nas eleições de novembro. Em conversa há 20 dias com um interlocutor no Planalto, Bolsonaro deixou claro seu incômodo caso entre em partidos como PP e PTB. O raciocínio era mais ou menos o seguinte: se Luciano Bivar não o deixou controlar o PSL, por que Ciro Nogueira e Roberto Jefferson autorizariam o presidente a dar as cartas em seus feudos há décadas?
A desconfiança sobre ambas as legendas existe, ainda que as realidades sejam distintas. Hoje, o PP está em ascensão na política nacional — passou de 495 para 685 cidades comandadas após as eleições e pode presidir a Câmara com Arthur Lira (AL) a partir de fevereiro. Já o PTB caiu de 256 para 212 prefeituras após a disputa, e sua presença é baixa na Câmara, com apenas 11 parlamentares. O Patriota já fora uma opção especulada em 2018. No primeiro semestre daquele ano, Bolsonaro chegou a anunciar que iria para a legenda, mas mudou de ideia após perceber que não teria o controle do fundo partidário. O dinheiro no partido era (e ainda é) comandado por Adilson Barroso, um político de trajetória apagada do interior de São Paulo que já passou, desde os anos 1980, por PTB, PFL, Prona, PSC e PSL.
O cenário agora é outro. Depois de deixar Bolsonaro escapar pelos dedos, Adilson Barroso teve que se adaptar à realidade pós-eleições. Seu partido não cumpriu a cláusula de barreira e teve que fazer uma fusão com o PRP para não perder acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV. Para 2022, contudo, o sarrafo vai aumentar, e por isso as portas do Patriota agora estão mais abertas do que nunca. Há dois anos, a obrigação para cada legenda era de receber ao menos 1,5% dos votos válidos nas eleições de 2018 para a Câmara dos Deputados, distribuídos em pelo menos nove estados. Em dois anos, a exigência subirá para 2% do total de votos. Bolsonaro tem sido aconselhado pelos neoaliados do centrão a aderir a um partido tradicional para a travessia 2021/2022. Mas o Patriota está de portas abertas, e o presidente está, sim, de olho nele como uma possibilidade.
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PS: Em 2018, quando se aproximava o fim do prazo para filiação partidária, ele rompeu com o presidente do partido, Adilson Barroso, e fez um acordo (há quem diga milionário) com Luciano Bivar, do PSL. Humilhou publicamente o Patriota, que já tinha organizado festa, com coletiva de imprensa, para anunciar o novo filiado.