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Brasil é o próximo a ter convulsão social como Equador e Chile, diz Boaventura de Sousa Santos

Boaventura de Sousa Santos

O jornalista Bruno Alfano entrevistou o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos no Globo.

Confira trechos:

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O senhor foi consultor da Constituição do Equador, de 2008. O que é possível se aprender com os indígenas neste momento histórico?

Se aprende bastante. Nessa Constituição de 2008, pela primeira vez acolhe, dentro de um texto eurocêntrico, moderno, conceitos indígenas. Como os direitos da natureza. Nós na nossa cultura ocidental, no tal império cognitivo, é inovação. Porque os direitos humanos é dos humanos. A natureza não é humana e não pode ter direitos. Mas para os indígenas não pode ser assim. Essa é a grande inovação que o Equador nos deu. O que aconteceu agora, obviamente, é que o texto da Constituição é muito bonito, mas não se aplicou. E o resultado está aí. O país está em chamas, arrasado. O continente está a mostrar que o neoliberalismo chegou ao fim. Os portugueses, a partir de 2016, fizeram uma descoberta que o neoliberalismo é uma mentira. Não cria boa imagem para o país, não cria paz social e não cria investimento. E o Brasil, em breve, será o próximo. Quando as pessoas começarem a sentir no bolso das famílias a consequências dessas políticas neoliberais vai haver consequências e eventualmente traduzir-se-á em convulsão social.

Paulo Freire tem sido atacado duramente por setores conservadores. É possível um processo educacional sem realidade do estudante?

Não pode existir. A Escola sem Partido é uma escola com partido, com muita ideologia. Ela defende que o professor é um transmissor de conteúdos e não um educador. Ora, então acabemos com as pessoas e coloquemos umas máquinas qualquer a falar com os estudantes. Não penso que Paulo Freire foi tão decisivo nas escolas de Educação quanto se pensa. Ele foi, por um período, quase mais conhecido no exterior do que aqui no Brasil. Eu o conheci. Não era um doutrinador. Era um conversador.

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