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Brasil vive ‘crise de imagem’ às vésperas da Copa

Para quem acompanha o que acontece no Brasil pela imprensa internacional, a sensação dos últimos meses pode ser a de que a sorte conspira contra o país às vésperas da Copa do Mundo.

Seria de se esperar que as notícias sobre os atrasos nas obras do Mundial ou os protestos anti-Copa fossem rodar o globo, mas recentemente tornou-se comum ler nos jornais de Londres, Madri ou Nova York sobre mazelas brasileiras que antes passariam desapercebidas aos olhos estrangeiros – de conflitos nas favelas do Rio ao surto de dengue no Nordeste; das denúncias de obras superfaturadas nos rincões do país ao risco de falta d’água em São Paulo.

“Agora quase todos os dias tem matéria sobre o Brasil nos jornais daqui – e realmente chama a atenção o fato de a grande maioria delas ser negativa”, diz Daniel Buarque, jornalista e autor do livro Brazil, um país do presente: A imagem internacional do “país do futuro” (Ed. Alameda), que está na Grã-Bretanha pesquisando sobre a cobertura internacional da Copa.

Certamente, também há exemplos de reportagens positivas, mas é difícil ignorar que o tom geral da cobertura está mais desfavorável ao Brasil, da mesma forma que há apenas três anos o entusiasmo com o país era evidente.

“Para começar, é comum que antes de uma Copa ou Olimpíada haja ansiedade sobre as preparações e ritmo das obras”, afirma Richard Lapper, chefe do FT Confidential, o serviço de pesquisas sobre mercados emergentes do Financial Times. “O mesmo aconteceu na Grécia e África do Sul.”

Simon Anholt, especialista em imagem-país que faz um ranking das nações mais populares do mundo, concorda com a avaliação: “Sempre temos as mesmas histórias: ‘eles não vão ficar prontos a tempo, isso não vai funcionar'”.

E qual impacto a cobertura internacional da Copa pode ter na imagem do país no longo prazo?
O governo tem defendido que todo esse clima negativo se reverterá quando os jogos começarem e o Brasil finalmente explodir em uma grande festa.

Também diz que o torneio ajudará a promover o país no exterior, contribuindo para atrair turistas e investidores no longo prazo.

As opiniões dos analistas se dividem.

Para Anholt, não há garantias de que um evento esportivo desse tipo possa melhorar a imagem externa de um país. “Pode acontecer inclusive o contrário: a África do Sul, por exemplo, vinha melhorando progressivamente sua posição em nosso ranking (da popularidade dos países) depois do apartheid, mas a Copa de 2010 fez os sul-africanos retrocederem esses avanços em dois anos”, conta.

“Em muitos lugares não se tem ideia da real extensão do problema da desigualdade no Brasil, por exemplo – e se ela for escancarada pela imprensa internacional podemos ter um impacto negativo na imagem do país”, acredita Anholt.

Saiba Mais: bbc