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Caetano Veloso narra jantar com Dallagnol e explica por que apoia, em seu “íntimo”, a Lava-Jato

 

No Globo, Caetano Veloso narrou seu jantar com Deltan Dallagnol:

O encontro com Dallagnol se deu nas vésperas do ato de desagravo ao juiz Marcelo Bretas, cujas decisões tinham sido desqualificadas pelo ministro Gilmar Mendes. Antes da chegada de Deltan, ouvimos procuradores públicos do Rio. Gostei muito das falas deles e, ouvindo também o que disseram nossos colegas artistas, combinei comparecer ao ato.

Minha posição em relação à Lava-Jato não mudou em essência. Pelo timing de minhas respostas às entrevistas citadas vê-se que não fui um opositor da força-tarefa como os que só viam nela uma perseguição ao PT. Minhas palavras de relativa desconfiança só surgiram quando o impeachment de Dilma já tinha se dado e o governo Temer já se instalara, com figuras importantes do seu núcleo sob a mira da operação. De modo que um petista poderia achar que não critiquei a operação quando o PT parecia ser seu único alvo.

Fui contra o impeachment. E acho que suas consequências são péssimas. Mas os artigos de Jânio [de Freitas] sobre a força-tarefa, que considero necessários, me pareceram mesmo ranzinzas. Não me alegraria que os resultados do impeachment confirmassem seu pessimismo em relação à Lava-Jato.

Sou, em princípio, um apoiador do movimento interno da sociedade brasileira que a produziu. Por isso mesmo não gostei quando o juiz Moro soltou a gravação do telefonema de Dilma pra Lula, depois do prazo estipulado, o que teve papel importante na resposta da opinião pública e deu força ao movimento pró-impeachment. E detestei a cena do powerpoint. Dallagnol falou disso no encontro como tendo sido algo que não deu certo, embora desmentisse que tivesse dito não ter provas mas ter convicção.

Gosto de um artigo de Caio Rodriguez que saiu na “Ilustríssima”, onde se vê um paralelo não entre a Lava-Jato e a italiana Mãos Limpas, mas entre ela e o caso da luta jurídica americana relativo à frequência de uma aluna negra em escola de bairro branco. No artigo os acordos de leniência aparecem como modificadores do capitalismo brasileiro, coisa que não aconteceu na Itália.

Por outro lado, me lembro de ter falado com ênfase, no encontro com Deltan, sobre a importância histórica da figura de Lula e o significado de sua força política. Ao sair, ele se ofereceu para me responder a qualquer pergunta que futuramente me ocorresse.

É saudável que nós brasileiros fiquemos de orelha em pé para que movimentações importantes não venham a servir à manutenção das nossas desigualdades. Porque não somos campeões em corrupção mas somos campeões em desigualdade. É com tudo isso em mente que apoio, em meu íntimo, a Lava-Jato.