Campanha publicitária da reforma da Previdência privilegiou Record, Band e SBT

Da Folha:
A campanha publicitária do governo de Jair Bolsonaro para a reforma da Previdência destinou em sua segunda fase R$ 4,3 milhões para merchandising, como é chamada a propaganda inserida em programas. Desse total, 91% foram para Record, Band e SBT. As duas primeiras emissoras são clientes da empresa do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten; a terceira é ex-cliente.
O plano de mídia entregue pela agência de publicidade ao TCU (Tribunal de Contas da União) mostra que houve negociação com nove apresentadores para testemunhos favoráveis à mudança nos regimes de aposentadorias e pensões. Apresentadores de TV prediletos de Bolsonaro foram os escolhidos. As declarações de apoio, todas pagas pelo governo, foram ao ar ao longo de sete semanas, de maio a julho do ano passado.
Na Record, os maiores investimentos da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) foram no programa matinal Hoje em Dia, de César Filho e Ana Hickmann (R$ 983 mil por cinco inserções). Nesse valor, estão incluídos os cachês de R$ 34 mil para cada fala de um ou outro âncora.
No SBT, a negociação foi feita com os programas Eliana (R$ 269 mil por um testemunhal), Operação Mesquita, de Otávio Mesquita (R$ 218 mil por três declarações), e do Ratinho (R$ 915 mil por quatro elogios). Mesquita cobra cachê de R$ 2.100. Os dois colegas incluem sua remuneração pessoal no valor cobrado pela emissora.
Ratinho é um dos comunicadores da preferência de Jair Bolsonaro ao dar entrevistas. “As mudanças são claras e boas para o Brasil”, defendeu o apresentador numa ocasião, ao propagandear a reforma. “Você acha que se a Previdência fosse ruim para o povo, eu estaria a favor?”, questionou em outra oportunidade.
Não há ilegalidade na contratação de artistas ou jornalistas para fazer merchandising na TV. O TCU, no entanto, investiga se a distribuição de verbas da Secom entre as TVs se dá por critérios políticos, e não técnicos (entre eles o da audiência), o que afrontaria princípios constitucionais, entre eles o da impessoalidade na administração pública.
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