Canonização de dom Hélder Câmara, padre que lutou contra ditadura, avança no Vaticano
Da Folha:
O processo de reconhecimento como santo do religioso brasileiro dom Hélder Pessoa Câmara (1909-1999) entrará em nova etapa na semana que vem. Trata-se da abertura da fase romana das investigações. A morte do cearense com forte atuação em Pernambuco completa 20 anos nesta terça (27). “O próximo passo será o papa reconhecer, em nome da Igreja, que dom Hélder praticou em grau heroico as virtudes cristãs. Aí ele será declarado venerável”, disse à Folha Jociel Gomes, frade franciscano responsável por realizar o pedido junto ao Vaticano.
O processo de canonização de dom Hélder foi aberto oficialmente em fevereiro de 2015, nove meses depois de a Arquidiocese de Olinda e Recife solicitar a questão à cúpula da Igreja. Desde então, frei Jociel e sua equipe vasculharam sua biografia e ouviram pessoas que conviveram com o religioso.(…)
Dom Hélder tornou-se arcebispo de Olinda e Recife em 1964. Foi um período de forte envolvimento com causas sociais, e ele se tornou um contraponto à ditadura militar. Incentivou e fortaleceu as comunidades eclesiais de base e foi alçado ao posto de resistência ao regime. Passou a ser visto como líder na defesa dos direitos humanos.
Foi acusado de comunista, chamado de “arcebispo vermelho” e perseguido pelos militares, sobretudo depois do Ato Institucional nº 5. Sua atuação leva a inferir que a eventual canonização, em um período como o atual, possa ser utilizada de forma política. Dom Hélder foi um dos interlocutores da família de Fernando Santa Cruz, militante de esquerda desaparecido durante o período da ditadura e alvo de recente ataque do presidente Jair Bolsonaro.
(…)