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Cardozo: “Foi criada uma versão para uma reunião que não existiu”

 

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ri quando perguntado se não se incomoda de ter ficado no olho de mais um furacão do Governo Dilma ao longo desta semana. Se é um riso ensaiado ou espontâneo, não se sabe. Mas é certo que Cardozo está bem treinado para rebater as duras críticas que recebeu por ter se reunido com representantes das empreiteiras investigadas da Operação Lava Jato — Cardozo só confirma uma reunião. A sua argumentação, no entanto, não foi suficiente para evitar que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa chegasse a pedir a sua demissão por rede social.

Pergunta. Empreiteiras investigadas na Lava Jato têm relação estreita com o Governo, seja na Petrobras ou via financiamento de campanha. Como atender à transparência exigida do Ministério da Justiça para lidar com o assunto, uma vez que o senhor esteve com representantes de três construtoras?

Resposta. Meus compromissos sempre foram absolutamente transparentes. Há uma especulação indevida, e notícias improcedentes. Foram mencionadas duas reuniões que teria tido com empreiteiras, uma com o [advogado] Sergio Renault, da UTC, e Sigmaringa Seixas [ex-deputado petista], que nunca ocorreu. Isso foi uma situação que pode ser vista como reunião. Estava com o Seixas, conversando sobre uma questão pessoal, e ele me disse que havia marcado encontro com o advogado Sergio Renault, que o aguardava na antessala do meu escritório. Como veio para cá, pediu para que viesse aguardar. Eu o cumprimentei (Renault), e usei aquela frase ‘vamos tomar um café’. De pé, com portas abertas, ele saiu. A partir daí construiu-se uma reunião que não houve. Foi feita uma versão. A Odebrecht não. Marcou audiência, queriam a visita institucional, mas para tocar em questões da Lava Jato. Disse que os receberia desde que cumpridos os procedimentos formais, isso consta e tem ata. E foi acompanhado pelo servidor do ministério (Márcio Junior), que é o chefe de gabinete. Ele fez a ata, acompanhou o encontro com a Odebrecht.

P. Podemos ter acesso à ata?

R. A ata não posso apresentar porque há questões sigilosas. Mas encaminhei questionamento para a Procuradoria Geral da Repúblicapara que ela me prestasse informações sobre uma questão do objeto deste pedido. E indaguei se havia sigilo e se poderia responder à própria empresa, e se poderia falar publicamente sobre o teor dessa representação. Ainda não recebi a resposta.

P. Mas o juiz Sergio Moro condiciona até a extensão da prisão preventiva dos executivos hoje detidos em Curitiba, em função desses encontros noticiados pela imprensa que o senhor diz que não ocorreram, não?

R. Na decisão de Moro ele diz que não tem indício de que eu tenha feito rivalidade. Mas ele diz que as empreiteiras estariam se valendo disso. Eu não vou discutir decisões judiciais. O ministro da Justiça não tem como adentrar no que outro poder decide. Apenas tenho de dizer que nenhum dos advogados da Odebrecht fez solicitações indevidas. Eles fizeram duas petições, não tem a ver com poder Judiciário, mas a investigação de vazamentos, e acordo do Brasil com a Suíça [na divulgação de informações financeiras dos envolvidos]. Não tenho nenhuma problema com isso, apenas não posso falar sobre a questão da Suíça.

 

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