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Carta em defesa da Democracia, teve ao menos 12 versões, mostram manuscritos

Goffredo da Silva Telles Jr. de terno e gravata, com expressão séria e mão no queixo
Goffredo da Silva Telles Jr (1915-2009) – Reprodução

A “Carta aos Brasileiros”, de 1977, um dos manifestos em defesa da democracia que serão lidos no próximo dia 11 na Faculdade de Direito da USP, passou por pelo menos 12 versões até chegar à redação final.

Responsável por escrever e ler o documento, Goffredo da Silva Telles Jr. (1915-2009) foi provocado por Almino Affonso, José Carlos Dias e Flávio Bierrenbach, formados na universidade onde o professor lecionava, que estavam inconformados com a direção dada às comemorações pelos 150 anos da fundação dos cursos jurídicos no país.

Eles organizaram um evento alternativo, no qual seria feito um discurso em favor das liberdades, da democracia e do Estado de Direito, cujo orador seria Goffredo. Anos depois, ele contou que se lançou por inteiro na missão. “Aquela obra, por nós idealizada, eu me comprometia a elaborar, com todas as veras do meu ser”.

De acordo com a Folha de S. Paulo, do convite até o evento se passaram quatro meses, período em que várias reuniões foram realizadas para discutir o conteúdo do manifesto e acertar sua forma, apesar de Goffredo ter executado a maior parte do trabalho sozinho, escrevendo, reescrevendo e lendo em voz alta o que já tinha até que ficasse satisfeito.

“Houve momentos em que ele não fazia outra coisa no tempo livre. Acordava às 4h e ficava até as 9h cuidando do texto. Se a gente viajava para a praia em finais de semana ou feriados, ele se isolava nesse trabalho. Era como uma corrida de obstáculos, uma ginástica. Ele podia escrever 10, 20 vezes a mesma página até achar o ritmo, a frase, a palavra perfeita”, disse Maria Eugenia Raposo da Silva Telles, advogada e mulher do professor.

Até hoje, pastas organizadas por ele guardam os manuscritos e as páginas datilografadas com as versões provisórias da “Carta aos Brasileiros”. Os documentos mostram que algumas noções importantes, como a discussão sobre a fonte de legitimidade do governo e sobre a competência para mudar a Constituição, e frases retóricas como “Ninguém se iluda” sempre estiveram lá, mas não o fecho “Estado de Direito Já!”.

O título também mudou. Começou como “Pronunciamento dos cultores do direito, ao se comemorar o sesquicentenário dos cursos jurídicos no Brasil”, passou para “Carta aos Brasileiros em homenagem ao sesquicentenário dos cursos jurídicos no Brasil” e terminou em “Carta aos Brasileiros”.

Desse processo participaram pelo menos sete pessoas, além de Goffredo: Almino Affonso, André Franco Montoro, Cantídio Salvador Filardi, Flávio Bierrenbach, José Carlos Dias, José Gregori e Maria Eugenia. Contudo, Bierrenbach, hoje com 81 anos, disse à publicação que o grupo contribuiu pouco.

O resultado entrou para a história, a ponto de a atual “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito” referir-se logo no começo ao trabalho de Goffredo. O manifesto atual, que é suprapartidário e prega o respeito ao resultado das eleições, já tem mais de 750 mil signatários.

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