Casos de tiros em escola é resultado de aumento de armas no país, diz especialista

A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carol Ricardo, afirma em entrevista à BBC News Brasil que o número de armas adquiridas por CACs (colecionador, atirador desportivo ou caçador) mais do que triplicou de 2018 a 2022. Para ela, isso reflete num cenário preocupante, uma vez que, com mais armas circulando, o país “começa a colecionar” casos de tiros em escolas.
Carol diz que três fatores principais contribuem para que esses incidentes com armas em escolas se tornem recorrentes. “O primeiro é o aumento das armas em circulação. O segundo é a falta de fiscalização e controle por parte do Exército e o terceiro é o incentivo e a banalização ao armamento por parte do poder público. Há um discurso de que ter uma arma e guardá-la em casa não oferece risco”, disse.
A advogada e socióloga também aponta que é preocupante como o Brasil “começa a colecionar” casos de atiradores em escolas, como ocorre com mais frequência nos Estados Unidos. “Toda vez que tem um ataque nos Estados Unidos, ocorre essa discussão de controle de arma. Aqui também alertamos sobre os riscos desse amplo acesso às armas de fogo. A gente deve continuar vendo casos assim com mais frequência por conta dessa facilidade ao acesso.”
Ela aponta que os argumentos para liberar mais armas não têm fundamento e que os recorrentes casos de incidentes revelam que não há cuidado com a maneira como elas são armazenadas. Além disso, Carol ressalta que a legislação sofreu constantes mudanças que facilitaram a compra desse armamento.
“A narrativa que busca legitimar o uso é a de que a arma é um bem e quem mata é o homem. Mas não há nenhuma informação ou treinamento sobre como elas estão sendo armazenadas. É uma situação grave, aliada a um sistema que não fiscaliza e não controla a distribuição desse armamento”, afirmou.
“Nessa categoria, mesmo antes do Bolsonaro, já via-se um crescimento de compra porque é mais fácil se cadastrar e conseguir armas com o Exército do que com a Polícia Federal. Mas agora está muito mais fácil”.
Outro ponto destacado é o preparo das escolas na hora de discutir essa escalada da violência e os casos de bullying. “Não estou acusando a escola, mas hoje sabemos que a violência nas escolas e o bullying são uma realidade e que isso gera novas formas de agressões entre os estudantes. É necessário que as escolas entrem nessa discussão o quanto antes”.
Veja alguns casos recentes:
Na quarta-feira (5/10), um adolescente de 15 anos atirou contra três estudantes em uma escola na cidade de Sobral, no Estado do Ceará. Duas das três vítimas foram atingidas na cabeça. Ambas estão em estado grave.
Em agosto, um menino de 8 anos matou o próprio cunhado, que era CAC, de maneira acidental com uma arma deixada no banco de trás do carro onde ele estava sentado. O caso aconteceu em Jacareí, no interior de São Paulo.
No dia 26 de setembro, um adolescente de 14 anos matou a tiros uma aluna cadeirante em Barreiras, no oeste baiano. A arma usada no crime foi revólver calibre 38 que ele pegou do pai dele, que é policial militar. O atirador entrou encapuzado pelo portão principal do colégio e fez os disparos contra a aluna no pátio da escola.