Christian Dunker rebate intelectuais que não reconhecem fascismo no neoliberalismo bolsonarista

Do Blog do Dunker no Tilt do UOL.
Em resposta ao texto que elaboramos sobre as afinidades do bolsonarismo com o fascismo, publicado em Ilustríssima, na Folha de S.Paulo, um grupo de pensadores reagiu com um artigo sobre “Desafios de uma Sociedade Aberta”.
Nosso artigo partiu de uma caracterização clara para examinar a hipótese do fascismo à brasileira: a proposta de armar a população brasileira, as agressões físicas e as tentativas de intimidação a jornalistas e membros do STF, a formação de grupos armados e milicianos ligados ao bolsonarismo [1].
Reconhecendo a complexidade definicional do fascismo, escolhemos fixá-lo como um tipo de discurso e um conjunto de estratégias, que, e essa era nossa pergunta, haveria de ter algum precedente histórico em nosso país. Foi assim que chegamos tanto ao integralismo de Plínio Salgado, quanto a ditadura militar brasileira e seus temas como a violência em nome da defesa da família e da alma brasileira.
Era uma forma de caracterizar historicamente o paralelismo entre bolsonarismo – em sua dupla base de defensores da violência como método – e do neopentecostalismo de resultados – como instrumento de moralização da política.
A aliança entre Deus e Nação, cuja retórica dominante é a do líder pai capitaneando seus filhos e irmãos e localizando seus adversários como inimigos corrompidos, justifica o traço de mobilização das massas característico do fascismo.
Nosso artigo acentua que o nexo econômico deste novo fascismo é confuso. Submisso a outra potência estrangeira, mas desmonta aspectos do Estado protetor. Reduz o impacto da Constituição de 1988, em acordo com uma agenda de austeridade, mas se atrapalha nas reformas tributária, administrativa e previdenciária, que até aqui dependeram mais do legislativo. Reconhecemos a anomalia de Bolsonaro neste caso:
“É verdade que a maior parte das experiências historicamente identificadas como fascistas não foram economicamente liberais, bem ao contrário, mas isso não quer dizer que exista uma relação unívoca entre fascismo e estatismo.” [2]
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