Ciro “espalha” demais e Flávio Dino é mais hábil, diz Jaques Wagner

De Jaques Wagner ao Intercept Brasil.
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O poder acomoda, inevitavelmente, tem uma capacidade de deslumbrar, de acomodar, muito grande. Quando fui deputado [federal] pela primeira vez [em 1991], tentei trazer para cá um projeto que tinha visto no México, nos Estados Unidos, pelo qual nenhum parlamentar poderia ter mais de uma reeleição, tal qual no Executivo. Não passou nem na bancada. Eu furei minha crença: tinha dois mandatos, não iria [concorrer] para o terceiro, coloquei meu nome para governador, em 1998. Como estávamos tentando construir uma aliança, acabei retirando meu nome. Daí me falaram: você vai ficar fazendo o quê? Boiando? Acabei indo para o terceiro mandato. Mas não fui para o quarto.
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Eu diria, sem ser arrogante, que o PT não é replicável – a frase nem é minha, é do Haddad. Por isso acho uma bobagem alguns segmentos do campo progressista quererem construir um caminho dispensando o PT. “Ah, mas é porque o PT nunca sai da frente”. Aí eu digo: o PSDB saiu da frente em São Paulo? A família Gomes saiu da frente no Ceará? A família Campos saiu da frente em Pernambuco? O McDonald’s entregou metade das suas lojas para o concorrente porque achou que estava grande demais? Não existe isso. Não é um ato de generosidade. Óbvio que [o candidato da esquerda em 2022] pode não ser nosso. Eu mesmo defendi isso: se não fosse o Lula em 2018, podia ser de fora. Minha ideia não prevaleceu, ok, foi o Haddad e não fez vergonha nenhuma, fez 47 milhões de votos.
Agora tem o Flávio Dino, que inteligentemente costura. O Ciro [Gomes], infelizmente, espalha. Gosto muito do Ciro, mas ele espalha demais. Acho que não vai ser o candidato. O Dino foi mais hábil, ele sabe que a existência dele depende de uma frente do campo progressista, humanista, chame como quiser. Então ele tenta ajudar, vai construindo. Aqui em Salvador, o PDT apoiou o DEM. O DEM vai apoiá-lo [em 2022]? Acho difícil.
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